
Disse certa vez o compositor Renato Russo que há muito também nos deixou: “... os bons morrem jovens”.
Por quê? Perguntamo-nos o porquê sempre diante da morte e da finitude da vida.
Perdemos recentemente o ator Domingos Montagner, mas parece mesmo que todos nós perdemos juntos um pouco de nós mesmos, com esse contato de tão longe e tão perto ao mesmo tempo, sobre a morte e o morrer. Esse tema da finitude nos amedronta, nos fascina, nos aproxima do outro, bem como nos distancia literalmente, pois nos incapacita de mantermos o toque, o olhar, a escuta... E é nessa hora que o coração aperta, e a angústia nasce.
Pensamos que podemos ter o controle de nossa vida. Fazemos planos. Escrevemos metas. Guardamos dinheiro para alguma viagem, por exemplo. E aí, algumas vezes, somos pegos de surpresa pela visita inesperada do “fim” entre nosso começo e meio da vida.
Durante toda a semana, percebi uma comoção diante de tal perda tanto em meus atendimentos clínicos quanto pelas redes sociais. O Domingos representava para muitos brasileiros “o cara do bem”, o homem honesto, o verdadeiro, o palhaço, o ator que começou de baixo, era terno e afetivo, o cara de família. Enfim, ele se tornou o referencial do bem na mídia brasileira. E com isso, todos nós sofremos juntos com a perda do bem contra o mal. Porque parece, muitas vezes, que a morte é o “mal” e, então, se trava uma briga com o bem. Revoltamo-nos quando, a princípio, parece que o mal venceu. Mas nem sempre é assim. Encarar a morte como uma passagem nos acalenta transitoriamente, mas a dor para muitos parece não passar. Entender que a morte não é um castigo. Ela vem, simplesmente vem. Ela chega, simplesmente chega, sem avisar, num mistério divino ou numa expectativa inesperada. Pois, por mais que esperemos a “dona morte” chegar em alguns casos, mesmo assim, ela parece nunca ser esperada, tampouco bem-vinda.
A correnteza do rio o levou, mas todos os dias lidamos com correntezas na nossa vida. E o grande segredo é mantermos o equilíbrio da canoa da vida nessas correntezas. Essa canoa? Ela é feita de nossas emoções e experiências vividas e acumuladas.
O tempo de todos nós urge. É hora de pensar, falar e praticar o que realmente importa: o bem! Olhar mais pra dentro de si e aprender também a silenciar quando necessário. Pensar antes de falar em alguns momentos e aquietar a mente e o coração, a alma e o corpo. Não somos nada! Títulos ou bens materiais, arrogância e altivez..., pois, no momento da finitude, tudo perde o sentido... Ou encontra-se o sentido? Esse episódio de Domingos levou o povo a refletir sobre a fragilidade do viver.
Sinta agora, viva emoções agora, fale que ama e equilibre-se nas correntezas da vida! Que tenhamos mais consciência do quão frágeis somos; que julguemos menos as pessoas e possamos compreender mais quem elas são de verdade. Mais perdão, mais amor e mais compreensão!
Disponível também em minha coluna UOL:
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher.htm
Por: Karina Simões Moura de Moura
@karinamourademoura