Meu consultório é um observatório para os meus escritos e artigos. Há quase 17 anos atendendo na clínica, percebo o quanto a depressão passa despercebida ou ignorada por tantos e por uma sociedade que demonstra ainda preconceito e má compreensão com as pessoas acometidas com o diagnóstico. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) nos informa que até o ano de 2020, faz-se uma estimativa que a depressão será o segundo transtorno mais incapacitante do mundo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como tema para campanha deste ano, pelo dia Mundial da Saúde, que foi dia 07 de abril, a depressão como alerta à população. Um transtorno que não se escolhe idade, cor, nem fase e etapa da vida. Ela se instala e mata silenciosamente quando não é devidamente tratada e compreendida. O lema escolhido foi “Let´s talk”, ou seja, “vamos conversar”, em português, que nos remonta a pensar e refletirmos sobre uma iniciativa de estimularmos e reforçarmos que precisamos conversar sobre o assunto constantemente com a população, considerando que existem formas de prevenir e de tratar a depressão. Ou seja, se faz necessária uma conscientização como ação de prevenção com a população sobre o que é a depressão e que ela pode matar.
A depressão ou Transtorno Depressivo Maior (TDM) é um transtorno mental frequente que, de acordo com o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico), apresenta uma incidência ao longo da vida de 20% em mulheres e 12% em homens nos Estados Unidos (EUA). Globalmente, cerca de 350 milhões de pessoas de todas as idades sofrem dessa doença. É triste presenciar, bem como sentir alguém em sofrimento por tal transtorno. O preconceito existente ainda é enorme, pois são pessoas mal compreendidas e rotuladas de “fracas” ou sem “força de vontade”. Costumo dizer que além do cérebro, o coração e alma da pessoa deprimida se encontram doentes. É uma estranha sensação de como se a alma chorasse, e as forças fossem perdidas para o ato de lutar, pelo eco e vazio existentes internamente nessas pessoas. Assim, muitos se autodescrevem em meu consultório, alguns regados a lágrimas e outros em sofrimento por falta delas. Uma dualidade de sentimentos entre o bem e mal, entre o querer e o não querer, entre viver e o morrer... um pouco assim, vive alguém deprimido.
Alguns sintomas são encontrados potencialmente no quadro depressivo: humor deprimido, perda do interesse ou do prazer pelas coisas da vida, sentir-se triste frequentemente ou uma sensação de vazio, perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta, insônia ou sono excessivo, apetite alterado, fadiga, sentimento de inutilidade, pensamentos disfuncionais e de desvalia ou morte, dentre outros. Muitas pessoas com depressão também sofrem com sintomas como ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem ter sentimentos de culpa ou baixa autoestima e falta de concentração. Encontrando-se com os sintomas citados, é preciso fazer urgentemente a procura por psicólogos e psiquiatras.
A interação de fatores sociais, psicológicos e biológicos é o resultado da depressão, ou seja, pessoas que passaram por eventos estressores (luto, perda de emprego, trauma psíquico, separação, etc.) são mais propensas a desencadear os sintomas e desenvolver o transtorno.
Sugiro fazermos uma reflexão: olhe para o seu coração. Visualize a sua história e não se perca na compreensão de que a vida será sempre um perder e um ganhar. Saiba perceber que a cada tempo algo novo em sua vida acontece e que não será exatamente como foi pensado e imaginado. Dê fundamento à sua alegria e isto não significa deixar de ter o direito de chorar, mas não desembarcar e ficar paralisado no outono da alma. É preciso lembrar que tudo segue e assim haverá de vir nova primavera, novas cores e novas razões para sorrir.
É tendo um sentido existencial que não ficaremos perdidos na dor. Seguiremos com as nossas marcas, mas sempre haveremos de ter a certeza de que tudo passa e conosco seguirá o que se eternizou dentro de cada um, de um novo jeito, num novo tempo.
Por: Karina Simões Moura de Moura
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