Deparar-se primeiramente com a angústia de uma família, mas primordialmente com a angústia de uma mãe diante de um sofrimento de seu filho, é algo tão comum e frequente em meu “laboratório” clínico, como costumo chamar, ou seja, em meu consultório. Já atendi a inúmeras mães com as culpas, angústias e renúncias que a personagem da Julia Roberts vive com maestria. Dava pra sentir o aperto no peito e a respiração curta ao ver as cenas onde ela se deparava com o filho em sofrimento pelo bullying vivido, ou pelas conquistas diárias que o jovem Auggie vencia e vivenciava. O filme mexe com nossas emoções e desperta nos espectadores um enorme aprendizado na forma de encarar a realidade e de se comportar em sociedade. Ensina-nos, com simplicidade, a beleza e a necessidade urgente de aprendermos a conviver num mundo plural, em que o respeito e a tolerância se fazem necessários. É, pois, uma verdadeira lição da vida moderna.
A deficiência de nascença do jovem Auggie pode ser entendida como qualquer outro tipo de exclusão hoje em dia vista em nossa sociedade. Mas o mais relevante é a possibilidade da compreensão da leitura que o filme nos dá, da imensa importância do núcleo familiar acolhedor, uma vez que estão comprometidos uns com os outros. Esse fato ressalta o valor familiar na atual sociedade. Lamentavelmente, o elo familiar se encontra, em muitos lares, com rupturas diversas.
A lição fantástica ou “extraordinária” que tiramos é também que os sentimentos ou afetos gerenciados dentro de cada um de nós têm uma repercussão própria. Assim, levarmos em consideração a dor do outro de modo a acolhê-lo e compreendê-lo é sempre o melhor caminho a fim de que afetos positivos possam ser construídos numa geração para que essa se torne realmente extraordinária. Pois, como diz uma das falas do filme, a qual parece ser um clichê, mas a sua prática é de extrema premência: “Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil”.
Por: Karina Simões Moura de Moura