Vivemos numa sociedade alimentada por estímulos ansiogênicos, 24 horas por dia, num mundo repleto de violência e marginalizações. Numa sociedade líquida, como nos falou o grande sociólogo Zygmunt Bauman, onde se estabelece uma vivência de relações descartáveis, o medo acomete-nos invadindo em forma de insegurança, na verdade, chegando sem pedir licença e se instala.
Tem sido frequente escutarmos de pessoas que relatam terem sentido ataques de pânico. Na clínica, o número de pacientes só cresce, e a procura de ajuda diante de sintomas como o medo de morrer, taquicardia, insegurança e medo de perder o controle, por exemplo, tem aumentado cada dia mais. O depoimento do Padre Fábio de Melo que revelou ter o transtorno de pânico, de certa forma, ajudou a desmistificar um pouco o assunto, bem como muitas pessoas se sentiram mais confortáveis para poderem assumir o que também sentem, e, por motivos muitas vezes de preconceito, não revelavam.
Diante da enorme demanda na nossa clínica de pacientes à procura de tratamento com o diagnóstico de transtorno de pânico, percebi a necessidade e importância de esclarecer aqui um pouco a diferença entre “ataques de pânico” e o “transtorno de pânico”, assim como estabelecer a diferença do medo e da insegurança que vivemos hoje em relação ao pânico como um transtorno. Pois o medo é uma resposta nossa emocional a uma ameaça iminente real ou percebida, enquanto que a ansiedade é uma antecipação da ameaça futura.
Os transtornos de ansiedade de acordo com o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) se diferenciam do medo ou da ansiedade normal adaptativa por serem excessivos ou persistirem além de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento. Muitos dos transtornos de ansiedade se desenvolvem na infância e tendem a persistir se não forem tratados.
Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo ou desconforto intenso que pode alcançar um pico em minutos e segue com uma lista de sintomas físicos e cognitivos, tais como: palpitação, taquicardia, tremores, sudorese, sensação de falta de ar, náusea, medo de perder o controle, medo de morrer, dor ou desconforto torácico, desconforto abdominal, tontura, vertigem ou desmaio, calafrios ou ondas de calor, sensação de formigamento, sensação de desrealização (sensação de irrealidade), sensação de despersonalização (uma sensação de estar distante de si mesmo), etc.
O transtorno de pânico refere-se a ataques repetidos de pânico inesperados e recorrentes. A frequência e a gravidade desses ataques variam de forma considerável de paciente para paciente. É necessário mais de um ataque de pânico completo inesperado para que o diagnóstico do transtorno seja consolidado de acordo com o DSM-V. Existem consequências funcionais significativas para os pacientes com transtorno de pânico, pois tais pacientes apresentam níveis altos de incapacidade social, profissional e física. Eles podem com frequência se ausentar do trabalho ou escola.
Assim, viver nessa selva tornou-se um grande desafio. Tudo pode acontecer, literalmente, num clique. Num mundo de insegurança o alerta está sempre ligado e não é sem razão que ataques de pânico sejam ocorrentes, afinal o perigo está a nossa frente ou, melhor dizendo, está dentro da gente.
Texto disponível também em minha coluna UOL: http://vyaestelar.uol.com.br/post/10285/sera-que-tive-um-ataque-de-panico-ou-um-transtorno-de-panico