Em determinado instante da vivência de um relacionamento, que passa por várias fases, é comum as pessoas se perguntarem: É isso mesmo que eu quero? Ficar nesse relacionamento é mesmo o melhor para mim? Ter a coragem de investir numa relação que se desgastou, sempre é uma hipótese que o casal se utiliza, mas nem sempre gera o fruto esperado. Isso se dá por dois motivos: ou acabou o amor ou não conseguem por si só resolver as questões e mudar a dinâmica do relacionamento.
Já ouvimos muita gente dizer que tem medo de ir a um psicólogo porque acha que se for, tudo terminará em separação. Afinal, será isso mesmo? Bem, o que acontecerá numa terapia será o fortalecimento das pessoas envolvidas na relação para poderem, com autonomia, decidirem sobre o que é melhor. É um grande equívoco pensar que psicólogo separa casais; aliás, há muito mais casais que permanecem unidos do que aqueles que decidem se separar após uma terapia, pelo menos essa é a estatística de nossos consultórios. Mas separar, caso as partes decidam ser o melhor, não é igual a “fracasso”. Fracasso é viver a incongruência de viver o que não mais existe. Vitória é saber dar vida ao que ainda tem possibilidade ou saber sair inteiro de um casamento, apesar de tantas perdas.
Mas a pergunta que parece existir na cabeça de muitas pessoas que chegam à nossa clinica é: Será que ainda tem jeito? Será que eu amo meu cônjuge? Estou por amor ou conveniência. O maior de todos os inimigos, para se chegar a uma resposta correta, é o medo. As pessoas temem que o caminho do autoconhecimento leve a uma decisão de divórcio que implica perdas, julgamentos maledicentes em incertezas sobre o futuro, etc. Diante de um receio de o casamento ter um fim, mesmo estando insatisfeito com ele, fica uma revolta que compromete a felicidade de todos. É nesse momento que o casamento passa a ser algo automático, dando vez ao que se chama de “conveniência”. Tudo passa a se justificar no que não está na centralidade da relação, ou seja, o amor entre o homem e a mulher, e passa a ser periférico: os filhos, o patrimônio, o medo da solidão, etc. A partir disso, o casamento passa a ter uma sentença escravizante: “não está bom assim, mas tenho que suportar isto”. O resultado é que a parte de inconformação em quem vive essa “prisão” estará gerando o desconforto para quem a ela se submete que, por sua vez, não deixará tal situação sem relevância e passará a desprezar e diminuir seu parceiro, transformando o casamento num grande inferno astral.
Temos estudado esse fenômeno e, em breve, quem sabe, publicaremos um livro sobre o assunto… Ou seja, um dos cônjuges por não mais querer o casamento e nem ter a coragem de pedir a separação, simplesmente passa a tornar a vida do outro insuportável para que este outro tome a atitude de dizer: quero me separar. É dessa maneira que o cônjuge que promove esse assédio estará se livrando da responsabilidade de assumir uma decisão (interiormente tomada, mas não assumida publicamente) deixando que o outro decida, para assim não ser responsabilizado pela “sociedade” e “amigos” como o culpado pelo desfazimento da relação e nem mesmo passe a carregar uma “culpa” que atormentará nos instantes mais difíceis patrocinados pelas perdas que uma separação ocasiona.
O casamento, sob o aspecto unitivo e sagrado, é bem mais que uma convivência sob o mesmo teto. É espaço de amor que se alimenta no fluxo do ir e vir desse sentimento. Saber diagnosticar se o que mantém uma relação é conveniência ou amor (vivido ou adormecido) é pergunta a ser direcionada ao coração, que merece todo cuidado e, dependendo da situação, favorecido sob o olhar científico de um profissional.
Por: Karina Simões e Fabiano Moura de Moura
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@karisimoes @fabianomdemoura
- 04.05.2015 | 18:26
Realmente é desse jeito.