Terceira idade // Amor após os 60 anos
Pessoas que chegaram à terceira idade sentiram o gosto da paquera e do começo de relação a dois.
(Naíza Alves // Especial para O Norte)
Sentir um frio na barriga, sorrir sem motivo, dar e receber carinhos. Todo mundo concorda que namorar é bom demais. É uma infinidade de sensações que tomam nosso corpo e nos deixam mais felizes e até mais bonitos. Esse prazer de viver não é uma exclusividade dos jovens. Muitos idosos estão descobrindo que envelhecer não significa ficar parado em casa, cuidando dos netos e preocupados com a saúde. Por isso, pessoas que chegam a terceira idade também namoram.
A paixão tem mais a ver com a história de cada um, seus sentimentos, sua cultura e nada disso é determinado por regras, convenções sociais e muito menos pela idade. "Nossa sociedade rotula o perfil da terceira idade como incapa-z de exercer sua sexualidade plena, ainda que, independentemente disso, o desejo sexual se mantenha presente em todas as fases da vida", afirmou a psicóloga Karinna Simões, especialista em sexualidade humana. Ela explicou que os idosos tem que saber encarar o envelhecimento com maturidade e entender que apesar das mudanças físicas, a conquista da sexualidade pode ser bastante satisfatória. Francisco e Raquel Gonzalez, de 66 e 65 anos, respectivamente, e juntos há 41 anos, não são especialistas na teoria, mas sabem muito bem o que significa isso na prática. "Quando se tem 20 anos, em termos sexuais, é muito mais constante. Com 60, um pouco menos, mas sempre existe", disse Francisco. "A gente gosta muito de ir a bailes. Quando você volta é a mesma coisa. Como se os jovens fossem a uma balada, e quando saem, vão fazer alguma coisa, porque estão se conhecendo. Então é igual. Não perdeu aquele interesse", confessou o aposentado.Francisco e Raquel se conhecem há muito tempo e como não têm filhos, aproveitam para estar sempre juntos. "Somos muito companheiros um do outro, participamos muito da vida do outro. A gente procura tudo o que gosta de fazer e sai muito", diz Raquel. A psicóloga recomendou isso mesmo. "A atenção e a companhia são símbolos fundamentais no namoro. É nessa fase que a comunicação profunda e o cuidado de um para com o outro tem tanto valor quanto as relações íntimas", explicou Karinna. Mas a sorte de um grande amor não chega só na juventude. Conceição de Araújo só conheceu Seu Ferreira Lima aos 64 anos. Antes disso ela se ocupava apenas em cuidar dos irmãos e achava que não tinha tempo para namorar sério ou casar. Quando começou a participar de grupos da Melhor Idade, parecia já muito tarde para viver grandes paixões. "Foi numa festa da associação de idosos que ele me chamou para dançar. Eu disse: 'Eu não danço com homem! Meu pai nunca deixou'", lembrou Conceição. Pois no mesmo ano já estavam casados, dançando e se divertindo por aí. A educação rígida e zelosa do pai de Conceição, hoje com 78 anos e viúva de Seu Ferreira, não impediu que ela descobrisse o amor. "Muitas mulheres nessa fase da vida começam a pensar que não precisam mais de sexo ou de namorar, por exemplo. Isso ocorre devido a uma má educação sexual da época, com pouca informação", afirma a psicóloga. Os tabus e preconceitos devem ser ultrapassados mesmo porque a melhor parte de namorar na terceira idade é que faz muito bem para a saúde e para a vivência de cada uma das pessoas que se permitem. "Eu me senti mais segura", contou Conceição. Karinna Simões conta o que acontece. "Namorar diminui o nível de stress e até rejuvenesce. O sentimento de prazer tem um potencial transformador dentro do ser humano. O idoso que se permite viver essa fase, tem menos chance de desenvolver doenças, pois a sensação de bem estar perdura, deixando-o com um melhor potencial na sua imunidade", explicou.