A busca incessante pela felicidade e por escolhas que favoreçam o destino faz com que muitos casais esperem que a simples condição de casados resolva, de maneira mágica, todos os problemas que aparecem, ao longo de sua convivência, e que na verdade os rodeiam.
Muitos vivem relações duradouras, porém distantes um do outro e insistindo em uma relação ou em uma pseudorrelação, que na verdade já se perdeu há tempos. Já existiu um dia, mas se foi. E não perderam meramente o amor ou o vínculo entre eles. Perderam, assim, a consciência da relação e do senso de responsabilidade e cumplicidade entre eles e por eles mesmos, tornando-se reféns de um amor que já não mais existe entre eles. A conveniência os mantém e as convenções sociais os aprisionam.
Mas, para o casal abrir mão dessa relação custa, ainda, muito caro e soa pesado demais para ambos, mesmo os dois tendo perdido a condição de sujeitos da própria história. Abrir mão significa muitas vezes sentir-se impotente e fracassado diante das convenções que a vida nos remete. E no momento em que se veem separados, se sentem devolvidos ao vazio de suas identidades bem como ao medo de enfrentar a vida. De enfrentar, também, um novo amor e uma nova história. Os medos de cicatrizes que marcaram um dia impedem, muitas vezes, o outro de viver sua plenitude e ele volta a ser refém dele mesmo, mais uma vez.
Como disse o poeta Vinicius de Moraes em o Soneto de Separação:
“De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
...
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente”.
E assim, vamos nos tornando reféns de um sentimento acomodado, nos culpando por amores perdidos e deixados para trás, por sentimentos vividos no silêncio de nossa alma, onde só nosso inconsciente terá acesso. Porque nos sonhos eles virão.
E nos versos da música “Lume de Estrelas” do Oswaldo Montenegro encontro sentido para finalizar minhas divagações:
“Toda vez que eu volto
Tô partindo
E no sentido exato
É por saudade...”
Por: Karina Simões
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Kleber Marques - 03.09.2012 | 07:09
Existe um grande verdade neste maravilhoso texto. Não vivemos a própria Vida, com medo de processar as mudanças que nos chegam a todo momento, e ficamos reféns de Sil mesmo...