O sentimento de raiva e a vontade de extravasar têm se tornado um fenômeno comum na sociedade, onde percebemos cada vez mais, gestos e comportamentos agressivos, movidos por uma ira interna, que muitas vezes se massificam. Todos têm um lado mais primitivo, que pode transformar uma pequena faísca numa chama ou explosão.
Na Neurociência, estudamos o transtorno de controle dos impulsos que é o fracasso em resistir a um impulso ou tentação de executar um ato perigoso para a própria pessoa ou para outros. Na maioria dos transtornos dessa categoria, o indivíduo sente uma crescente tensão ou excitação antes de cometer o ato. Após cometê-lo, pode ou não haver arrependimento, autorecriminação ou sentimento de culpa. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-IV) encontramos os seguintes transtornos do impulso, para o nosso conhecimento:
- Transtorno Explosivo Intermitente: episódios distintos de fracasso em resistir a impulsos agressivos, resultando em sérias agressões ou destruição de propriedades.
- Cleptomania: um fracasso recorrente em resistir a impulsos de roubar objetos desnecessários para o uso pessoal ou em termos de valor monetário.
- Piromania: um padrão de comportamento incendiário por prazer, gratificação ou alívio de tensão.
- Jogo Patológico: um comportamento mal-adaptativo, recorrente e persistente, relacionado a jogos de azar e apostas.
- Tricotilomania: ato de puxar de forma recorrente os próprios cabelos por prazer, gratificação ou alívio de tensão, acarretando uma perda capilar perceptível.
- Transtorno do Controle dos Impulsos Sem Outra Especificação: incluído para a codificação de transtornos que não satisfazem os critérios para qualquer um dos transtornos específicos do controle dos impulsos, descritos antes ou em outras seções do manual.
Vou deter-me ao espectro do transtorno explosivo intermitente, onde nos deparamos com o sentimento primitivo da raiva, presente em todos nós, porém, canalizada e processada de formas distintas. Pois, a fim de garantir a preservação da espécie, a raiva funciona, para nós, como um mecanismo de defesa, onde o cérebro é acionado quando se sente em uma zona de perigo.
A ira parece irracional, e de certo modo, é. No dia a dia, ela surge quando nossos objetivos são frustrados ou quando sentimos uma sensação de injustiça. É bom lembrar que nem sempre a raiva leva à violência. Pois, a raiva moderna, tomou novas formas de expressão. E a própria pessoa, muitas vezes, sofre sozinha, chegando a adoecer devido a uma raiva intrínseca. Outras vezes, essa raiva é extravasada de forma grandiosa, causando um desgaste maior e desproporcional à sociedade.
Segundo a neurocientista Molly Crockett, da Universidade de Zurique, na Suíça, existem evidências de que variações em um gene influenciem no circuito cerebral da raiva e do controle. São genes que desemprenham um papel importante nos nossos níveis de serotonina e dopamina, neurotransmissores fundamentais para sentirmos o bem-estar, e ambos envolvidos na agressividade. Por isso, ficamos irritados quando estamos com fome, por exemplo. Nessa hora há uma oscilação nos níveis de serotonina.
Um ataque de raiva costuma durar não mais de 15 minutos, porém, o cérebro e o corpo passam por transformações que podem deixar sequelas. A raiva saudável é aquela que nos torna capazes de protestar ou de nos autoafirmar. Ou seja, o melhor a fazer é aprender a ser assertivo e regular suas emoções para diminuir a fúria.
Lembre-se sempre e tome como lição: Gentileza gera gentileza. Ou como diz o clássico ditado inglês: “Keep calm and carry on”.
Por: Karina Simões
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