A solidão é um dos grandes medos do ser humano. Passamos a vida buscando abraços e presenças. O custo disto, por vezes, não é pequeno, pois pede esforço, tolerância e até sacrifícios inimagináveis. Mas por que tememos tanto a solidão se um dia faremos uma experiência de nos sentirmos desacompanhados?
A autossuficiência não é um caminho que responde a um prazer maior. E igualmente sofremos com o exercício de nos bastarmos. Afinal, qual é o modelo mais acertado: ser autossuficiente e não sofrer com a ausência de companhias ou ser dependente de presenças alheias?
Viveremos sempre uma inconstância e, ao que parece, é preciso aprender a viver com as insatisfações também. Nunca se encontrará um jeito perfeito, porque somos “seres desejantes”. Por isso mesmo, vivemos a inconformação por não termos e tendo, não mais queremos ter.
A solidão nos coloca de frente às nossas verdades pessoais, fazendo-nos deparar com um espelho e enxergar-nos. Sem o barulho do outro, ou as imagens do defeito do outro que esconde os nossos próprios defeitos, ficamos a contemplar as nossas imperfeições.
Sempre ouvimos alguém dizer que para estar preparado para um relacionamento é preciso, antes de qualquer coisa, “se bastar”. Neste sentido, a pessoa amada seria apenas um complemento, algo acessório. Contudo este conceito não se encaixa bem em tantos que vivem uma verdade de amor onde afirmam que a cor e o sentido da vida estão na convivência de cumplicidade com o outro. Assim, o outro não é apenas uma parte acessória, mas um todo que preenche e dá nova forma aquele que ama.
Ainda bem que o amor e as verdades humanas não se preocupam com o absolutismo de conceitos. A solidão ou o medo dela serão estações presentes na vida de todos nós. Ora seremos outono, ora seremos primavera. E aprender a conviver nessas estações é o grande mistério da vida. E finalizo lembrando de J. Lacan (1901 - 1981): “Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”.
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Texto disponível também em minha coluna UOL:
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