Em meio a tantas catástrofes e violências constantes na sociedade, lembrei-me do tema que há anos trabalho em consultório e em grupos: estresse pós-traumático.
O trágico e marcante acontecimento, para todos nós, do incêndio de Santa Maria (RS) ficará na lembrança de famílias e vítimas, como também na mente de muitos brasileiros que acompanharam pela mídia e sofreram juntos, o trauma e a dor da perda de muitos. Assim, nos deparamos com crianças, adolescentes, jovens e adultos marcados de tantas formas que necessitam passar muitas vezes por um processo de reestruturação cognitiva e emocional para conseguir se reinserir no contexto social após o enfrentamento de alguns traumas.
O trabalho de escuta e reestruturação junto às famílias das vítimas de traumas é essencial para a superação acontecer com mais precisão. Entender que cada pessoa que passa por um trauma irá se comportar de uma maneira única, e necessita de uma atenção cuidadosa, é algo premente. Pois, as reações expressadas têm relação com sua história de vida, história do trauma, sua capacidade de lidar com sentimentos e emoções e o impacto que a experiência traumática representou em sua vida. Nessa hora do pós- trauma é fundamental a intervenção terapêutica como recurso necessário para que a pessoa possa reorganizar seu padrão de funcionamento mental e dar continuidade ao processo e ao clico de vida saudável.
Mas, muitos não sabem o que vem a ser o Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT). É um transtorno da ansiedade que se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais onde o portador pode ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Ao se recordar do fato, ele revive o episódio, como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou. Essa recordação ou lembrança leva a uma série de alterações neurofisiológicas.
É exatamente esse quadro acima que muitos vivem hoje após a tragédia de Santa Maria (RS). Um quadro a princípio de estresse agudo em reação ao acontecimento, porém, com todos os sinais, sintomas e comprometimento psíquico para desencadear o TEPT. Reconhecer os sintomas e saber lidar com o diagnóstico é o primeiro passo para uma escuta diferenciada e um manejo de tratamento correto para as vítimas da tragédia.
Assim, o tratamento proposto a pessoas que sofram de TEPT precisa atingir as mais escondidas recordações traumáticas, levando-as a uma vivência atual e restabelecendo um equilíbrio psíquico na vítima. O acolhimento é o passo primordial e fundamental, para que a vítima do trauma sinta-se verdadeiramente compreendida e ouvida quantas vezes forem necessárias, repetindo a história e a vivência de dor. Pois, é nos amigos e familiares que a vítima se depara com uma fala fatídica: “Vamos esquecer isso”. Um erro cometido leigamente por muitos. Porque esquecer jamais será possível. Mas aprender a lidar com a dor sim.
Como finaliza uma paciente após alguns passos na psicoterapia: “Realmente, eu não sou mais a mesma pessoa após a vivência deste trauma, mas toda esta experiência de psicoterapia ensinou-me a dar muito mais importância à minha vida do que eu vinha dando antes.”
Por: Karina Simões
@Psicronicidade
Para saber mais sobre o tema ler: Transtorno de Estresse Pós-Traumático: Diagnóstico e tratamento. Editora Manole (SP). Capítulo 04 (Autoria: Eduardo Ferreira-Santos e Karina Simões)
everton - 11.02.2013 | 14:30
a perda de um amigo irmão, foi fator desencadeante para meu transtorno.
kalil de araujo gomes - 13.02.2013 | 00:13
obrigado pela explicação,muito clara e objetiva.
Liamar Oliveira - 24.03.2014 | 19:45
Dra Karina eu apresentei esses sintomas quando perdi meu Pai e procurei ajuda de Psiquiatra e Psicologo Graças a Deus superei esse texto foi muito esclarecedor ainda estou ruminando o texto para saber mais sobre o transtorno Dra Karina Gostaria Primeiramente de Agradecer a Deus por sua vida meu sonho e um dia te conhecer Fica na Paz de Cristo