Trabalho com o relacionamento humano, diariamente, e percebo a fragilidade dos vínculos afetivos que nós encontramos hoje, ou seja, a liquidez das relações, como diria o sociólogo Zygmunt Bauman. Vivemos numa sociedade que inspira o sentimento de insegurança e desejos conflitantes de estreitar os laços afetivos e ao mesmo tempo manter-se longe, frouxo, distantes desses. Temos medo de nos aproximar, de nos apegarmos a alguém e sofrer por este sentimento que na verdade é tão nobre: O AMOR! Pois, quando nos permitimos a uma entrega emocional, recebemos em troca um crescimento espiritual e uma sensação de completitude na alma. Não porque somos “uma só carne”, mas porque somos dois inteiros.
Todo relacionamento é ao mesmo tempo sonho e pesadelo, preto e branco, perto e longe. Ou seja, há uma oscilação de sentimentos, de humores entre almas, de sensações incompreensíveis, que coabitam entre si. E se, não estivermos sempre numa preparação mútua, isto é, nos considerando eternos aprendizes desta “escola do relacionar-se”, vamos nos deparar com grandes decepções. Porque a vida gira em torno dos relacionamentos, que apesar dos riscos óbvios que encontramos, é uma obra-prima que vale a pena se apreciar, e aprender dia a dia a enxergar melhor essa arte.
Frustramo-nos não com os relacionamentos em si, mas com o que esperamos deles. Depositamos expectativas e sonhos que, por vezes, não são nem compartilhados com o outro, e mesmo assim somos humanamente capazes de imaginar ou esperar que esse outro nos complete. Uma quimera, um erro, uma ilusão! Pois, todo relacionamento gerado e firmado em torno de expectativas será regado de decepções e fracassos. Porque nossas ações tendem a se concentrar nas satisfações que esperamos obter das relações. Quando na realidade, a essência quer nos mostrar o quanto nossas relações não têm sido plenas e verdadeiramente satisfatórias.
Falar em relacionamento nos reporta a falar de sentimentos. E sobre o ato de amar, Platão falava muito bem. Ele revelava que não devemos ansiar por coisas prontas e completas ao nos relacionarmos e amarmos alguém, mas devemos encontrar no amor o estímulo à participar da criação das coisas. Erich Fromm completa essa assertiva afirmando que em “uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista”. O amor trava uma batalha consigo mesmo, a fim de suprimir ou matar as incertezas que o rodeiam. Porém nunca terá confiança suficiente para acalmar a ansiedade, pois é baseado num presente instável e um futuro incerto, inescrutável. Mas Fromm também completava ressaltando que ter esperanças é uma condição essencial de ser humano.
Uma das mais assustadoras fragilidades do amor é a sua recusa em aceitar ou suportar com leveza a vulnerabilidade. É um sentimento árduo e cruel para quem ama se permitir viver uma suposta dualidade emocional, pois agimos como se pudéssemos acorrentar um nômade. Sobreviver à dualidade. Eis a grande conquista e o grande mistério do amor. A estabilidade total é a morte de um relacionamento!
Por: Karina Simões