Percebo cada vez mais no meu privilegiado laboratório pessoal, o consultório, a imensa força da dinâmica da vida feminina ao se cobrar e se sentir cobrada para ser a "mulher-maravilha". Sofremos a influência sim de um mundo regado a cobranças e "perfeições". E, dessa forma, a mulher sofre uma busca interminável por ser a supermulher, a referência, a excelente profissional, a boa filha, a esposa exemplar, a mãe presente e atenciosa, a amiga impecável etc. Quantas expectativas irão ser impostas ao feminino? E até onde toda essa cobrança fará bem a essas mulheres?
Costumo dizer que buscamos ser tantas em uma só. Somos tantas quanto a nossa imaginação e a nossa fantasia nos permitirem, assim como tantas quantas forem as possibilidades existenciais na construção desse ser- mulher, que será sempre uma busca interminável. Segundo Simone Beauvoir,"ninguém nasce mulher: torna-se mulher". E é assim mesmo... Somos uma construção diária social, que se solidifica com base nas nossas experiências de vida e nas nossas relações afetivas e interpessoais com o nosso eu e com os outros!
Dessa forma, as escolhas feitas pelas mulheres em ser mãe e profissional trazem mudanças na dinâmica da vida. Ou seja, a maneira de pensar, de agir, de ser e de se relacionar-se com o outro sofre modificações diante das funções agregadas por ela. Daí, a importância que percebo, diariamente, nas escolhas femininas em ser mãe e profissional ao mesmo tempo, ou mesmo em ser mãe ou não ser mãe? Por que não? Sou mãe e amo essa condição, mas tenho visto com frequência, em meu consultório e fora dele, que essa nova escolha muitas vezes tem pairado sobre a mente feminina. E isso gera cobranças impostas pela sociedade acostumada com vícios sociais de que o ser mãe tem que ser inerente ao ser mulher!
O que constato é que no momento em que as mulheres se sentem mais livres para terem ou não filhos, ou seja, quando ser mãe ou não passa a ser uma escolha livre de cobranças; elas conseguem visualizar que as tarefas maternas não serão fardos, e podem também ser fontes de prazer sem proporcionar uma sensação de falta de autonomia. Pois, muitas mulheres, ao passarem pela experiência de ser mãe de forma imatura, acabam gerando um conflito no qual ela se percebe com falta de autonomia e identidade. Ou seja, ela passa a assumir o papel apenas materno, deixando forçadamente de ser as "outras mulheres" que ela exercia.
O grande desafio das tantas mulheres que todas nós somos é compreender e aceitar alguns de nossos limites e saber lidar, com harmonia e equilíbrio, com cada papel que desempenhamos no decorrer de nossa estrada feminina! Construção... Seremos sempre um caminho em construção!
Por: Karina Simões
Texto disponível também em minha coluna: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher.htm