Uma polêmica tem tomado conta das redes sociais, precisamente quanto à questão do suicídio envolvendo crianças e adolescentes. A mídia tem responsabilizado o jogo "baleia azul" e o seriado da Netflix intitulado "Thirteen Reasons Why" pelo aumento de suicídio envolvendo jovens.
Com o surgimento desse fenômeno, opiniões divergentes apareceram acerca da publicidade do suicídio na mídia. Os defensores falam da importância de alertar pais e adolescentes para que se evite o aumento desse quadro desolador na estatística. No entanto, por outro lado, cientistas, a própria ONU e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) têm alertado para o perigo de que a divulgação pode sim gerar o efeito de estímulo à prática do suicídio.
Foi possível se ver, igualmente, várias postagens em redes sociais responsabilizando os pais diante do fenômeno do aumento de suicídio. Afirma-se que os pais têm sido negligentes nos cuidados e acompanhamento dos seus filhos hoje em dia. Consequentemente, movido por esse desamparo afetivo, o adolescente desencadeou o uso excessivo da internet, o qual tem gerado vários transtornos psíquicos. Será mesmo que encontramos o grande vilão responsável por tamanho adoecimento emocional familiar? Gostaria de fazer um contraponto ou um questionamento sobre o assunto. Esta geração, notadamente quanto aos pais, tem desempenhado um papel que talvez em gerações anteriores não se observava. É difícil imaginar que há duas ou três gerações passadas pudesse se ver facilmente um pai preparando uma mamadeira, dando banhos em seus filhos ou mesmo trocando fraldas. Via-se então nas gerações passadas o pai participativo na vida emocional desses filhos e eram pais extremamente afetuosos? Pais que dividiam tarefas com as mães? Acho mesmo que precisamos refletir e julgar menos esses pais. Tal fato, hoje, não é tão incomum. Questiono as afirmações de que os pais negam mais afeto aos filhos do que em gerações anteriores. Hoje percebemos muito mais a presença desses pais tanto na participação de cuidados aos filhos quanto na presença nas atividades escolares, por exemplo. Percebo na clínica a maior preocupação desses pais com a educação e o equilíbrio emocional desses filhos. É notável enxergarmos que a participação masculina na criação afetiva aumentou bastante nos últimos 10 anos, pelo menos. Ou seja, os pais da atual geração participam muito mais efetivamente da vida dos filhos em detrimento dos pais de gerações passadas. Mas, é verdade que a modernidade nos trouxe novos desafios, pois a internet com os seus atrativos tem formado e educado os filhos com muito mais intensidade, eficiência e prazeres. E isso demanda um controle por parte desses pais, bem como uma exigência redobrada no processo de formação dos filhos. É evidente que não defendo a negligência quanto ao processo de educação e formação dos filhos, principalmente, diante dos novos desafios e atrativos da modernidade, como a internet. Entretanto, penso ser injusta e equivocada a responsabilização total dos pais quanto ao fenômeno do suicídio ou do "baleia azul", pois os filhos atuais são amados com o mesmo ou talvez maior cuidado que os de gerações anteriores, onde não existiam tais jogos, por exemplo.
O fato é que os recursos tecnológicos têm desafiado a própria questão ética de um limite para além de uma possibilidade humana. A tecnologia encanta e traz atrativos que envolvem as crianças, os adolescentes e também os adultos. Quem é mãe e pai bem sabe o que estou falando. Os pais atuais amam seus filhos sim, dedicam-se aos seus filhos, fazem tudo o que podem e algo mais. Observo nitidamente na clínica eles me trazerem a sensação de que quanto mais fazem, mais se sentem culpados e, dessa forma, não precisa que alguém ainda venha dizer que a culpa é totalmente deles! Como se diz no senso comum: "A culpa é da mãe"! Brincadeiras à parte, os pais já carregam culpas demais diante de toda história da humanidade. Assim, tirem os pais do banco dos réus ou ao menos sejam justos em admitir que os pais, dentro de seus limites, fazem de tudo para verem seus filhos crescerem saudáveis.
Respondendo à pergunta que gerou o título deste artigo: não, a culpa não é dos pais!!! Num mundo onde a virtualidade se confunde com a realidade não é uma questão de culpas, mas de um novo desafio onde os pais têm que buscar novas alternativas para a competição desigual com as fascinantes ferramentas tecnológicas.
Por: Karina Simões Moura de Moura
Instagram: @karinamourademoura