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Quanto da vida há na morte?

Entre tabus e certezas se vive. Vimos o Brasil chorar diante de uma tragédia que vitimou a equipe de futebol da Chapecoense. Foram dias de comoção nacional. O Brasil chorou, e choramos juntos. Eu pude ouvir muitos relatos de mães, pais, adolescentes e idosos que estranharam a emoção de seus parentes diante da tal tragédia. Muitos ainda se inquietaram com a comoção nacional e não entenderam tamanha ebulição emocional de tantos!! 
O luto não reconhecido é aquele que parece não ter legitimidade, como se a dor que permitisse o choro fosse exclusiva para casos de morte de pessoas com quem exista relação de vínculo e afeto. Entretanto, lágrimas não se sujeitam às regras de DNA e nem mesmo a qualquer lei. As lágrimas pertencem à sensibilidade de muitos, à solidariedade de tantos outros e a quem tem o coração regado a verdades sinceras. A sensibilidade nasce da verdade empática de se colocar no lugar do outro. Quantas mães se emocionaram ao ver o desespero das genitoras daqueles atletas? Esposas, filhos, parentes e amigos também! Quantos jovens derramaram seus prantos por sonharem ter a vida daqueles jogadores? Não há limite nem barreira que impeçam o coração de sangrar. Que bom que ainda é possível sofrer com a dor dos outros. Como é bom saber que a cegueira tão bem descrita por Platão ou Saramago não tornou insensível o coração de nosso povo. Ainda somos emoção! 
Que brava conquista!!! A recente equipe da Chapecoense nasceu para fazer campeão um país inteiro. Somos campeões na dor, em meio a um país que vive uma crise, paramos e sofremos juntos, porque temos solidariedade nas veias! Mas o que fica disso tudo, muito além de um testemunho de solidariedade, é a sempre renovada pedagogia da morte. Ela traz luzes à vida com suas afirmações e visitas inusitadas. A morte aprendeu a bater à porta também de quem menos se espera. E, por isso mesmo, nos faz refletir sobre o modo como vivemos e gastamos nossas energias. A morte talvez seja a incerteza mais contraditória de nossa existência, nos dando a maior de todas as certezas de que ela vai chegar! Mesmo sempre tão inesperada. 
No jogo da vida é preciso não esquecer que a "partida" não se encerra por aqui, justamente porque a presença não se mede em tempo. Sempre serão eternos aqueles que ficarem em saudade. 
Eis a minha homenagem à Chapecoense. Somos todos Chapecoenses! 

Texto disponível em minha coluna UOL:
http://vyaestelar.uol.com.br

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Perdoar é preciso e faz bem à saúde!

Em épocas de tantas facilidades e evoluções tecnológicas de comunicação, estranhamente, percebemos que muitas pessoas carregam as suas dores e travam uma luta interior, e com isso esvaziam as dores, muitas vezes, nas redes sociais. Isso vem se agravando, pois, pensamos erroneamente que as tecnologias iriam apenas aproximar as pessoas a fim de se criar laços mais fortes de união. Mas o que tem acontecido frequentemente, é que a tecnologia e as redes sociais têm afastado as pessoas que estariam a princípio, tão próximas. Por essa razão e outras, viver e conviver com tudo e com todos tem se tornado uma tarefa árdua, a qual precisa sim de um especialista para orientar como devemos nos conduzir nesses novos tempos.

As pessoas tem feito uso das redes sociais, por exemplo, como mecanismo de catarse, ou seja, de desabafo das raivas sentidas ou decepções e frustrações que passam com os outros. Pronto! Jogam tudo na “rede” no mundo virtual como uma forma de catarse psíquica. E parecem sentir supostamente um alívio ao postarem as mágoas, no entanto, o efeito positivo não dura tanto tempo. Logo todo sentimento não elaborado na mente da forma correta volta a consumir por dentro e corroer como pensamentos negativos obsessivos e recorrentes, trazendo consequências e prejuízos significativos aos pensamentos e aos comportamentos do indivíduo futuramente.

Por vezes, torna-se muito fácil magoar e ser magoado. O ato de perdoar é em si, acho que podemos chamar de divino, não por se conceder o perdão ao outro, mas sim por, prioritariamente, aliviar o fardo que a gente carrega no íntimo do nosso ser. Como consequência, a leveza se instala, a vida se torna mais bela e a saúde retoma o seu ponto de equilíbrio; enfim, tudo flui de forma harmoniosa. O seu coração? Ah! O seu coração bate suavemente e agradece. A energia ou sensação da emoção emanada retorna mais cedo ou mais tarde. É a lei do retorno da vida. A lei do “faça o bem que o resto vem”, e esta lei é implacável e imbatível. Portanto, o tempo urge. Pratiquemos a generosidade do ato de perdoar, relevar, minimizar as ações que hoje parecem ter um grande peso para que o amor possa florescer na sua plenitude. Pois o melhor caminho será sempre o do perdão.

Em meus atendimentos clínicos consigo observar que atualmente, encontramos muitas pessoas amarguradas e com sentimentos de rancor e raiva, fazendo com que muitas dessas pessoas adoeçam psiquicamente e fisicamente, pois assim somatizam as doenças. Saber trabalhar psiquicamente o ato de perdoar é um dos maiores sinais de maturidade e grandeza que o ser humano pode apresentar. Segundo as pesquisas, pessoas que perdoam, vivem mais e de forma mais saudável. A saúde nas esferas física, psíquica, espiritual e mental agradece, e a vida toma um novo rumo. A pessoa desperta, cresce internamente e se autoavalia de que aquilo que a machucou naquele contexto de vida, hoje já não faz mais sentido, ou não tem mais aquele “peso”. Ela não tem nada a ganhar ao carregar essa marca da ferida na lembrança dos seus vários corpos.  Ao contrário, a marca do perdão suplanta tudo e faz novo o amanhecer a cada dia.

Mas finalizo com Martin Luther King que nos disse: “Aquele que é incapaz de perdoar é incapaz de amar”. Pense nisso!

Por: Karina Simões Moura de Moura

@Karinamourademoura

Texto disponível em minha coluna UOL:
http://vyaestelar.uol.com.br/colunistas/posts/45/karina-simoes

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Você não merece o que tem?

Li recentemente em uma reportagem que mulheres bem sucedidas e poderosas sentem-se como “impostoras”, a exemplo da atriz americana Jodie Foster, que já ganhou duas estatuetas do Oscar. Segundo a matéria a atriz afirma sentir uma sensação de fraude, como se não merecesse os reconhecimentos e premiações por ela alcançadas.

Ao analisar essa fala pude perceber que em várias oportunidades ouvi relatos, em minha clínica, de pessoas que tinham a mesma impressão e pude perceber que se trata de pessoas com o mesmo perfil de sucesso, empenho e angústia.

Essas pessoas, como a atriz, têm constantes pensamentos de que podem perder tudo a qualquer momento, diante da crença de que não merecidamente conquistaram algo. Em meus estudos e análises dos fatos pude perceber traços coincidentes nos vários casos que estudei e acompanhei. Com efeito, percebi traços de personalidades que se impunham obrigatoriedades e empenho excessivos para se alcançar a meta que se situavam bem próxima da perfeição ou do quase impossível. Imagino que o sonho foi construído com a concepção de uma distância quase inalcançável. Por outras palavras, a pessoa acredita que jamais será possível alcançar o que se pretende e mesmo se imprimindo um ritmo e exigência sobre-humano, guardam a ideia de ser inalcançável a meta, mesmo sem dela desistir.

É nessa ambivalência entre a descrença de se chegar ao lugar pretendido e a imposição de permanecer no esforço para conquistá-lo que se estabelece a realidade psicológica de sofrimento. Nestas condições, o sujeito mesmo alcançando o seu objetivo, continua a imaginar que não teria condições de atingir o que sonhou e assim julga que tudo não passa de uma “farsa”. É justamente diante desta realidade que surge a insegurança e com ela a angústia e até mesmo a ansiedade com o medo de perder o que conquistou.

O mundo competitivo que submete tantas pessoas a provas que não permite grandes erros como certos concursos públicos ou mesmo uma vaga em universidades em cursos de elevadas concorrência, sujeitam os candidatos a um esforço e dedicação desumanos. Estes passam anos estudando por até 15 horas diárias, e quando obtém êxito, muitos deles entram em crises, imaginando ter sido uma farsa ou mesmo com o medo de perderem o que com o seu esforço conquistaram. A fantasia de serem “impostores” precisa ser desfeita e o trabalho psicoterápico tem como desafio o trabalho com os pensamentos causadores desse sofrimento até a reformulação da crença de incapacidade.Daí se dá a importância e relevância de um acompanhamento psicológico para se desfazer essas crenças disfuncionais.

Tudo isso me leva a um conceito que precisa ser melhorrefletido nos tempos atuais: não basta alcançar o que tanto se deseja, pois muito além de uma conquista está o modo como se conquistou. Não adianta chegar apenas, mas fundamentalmente é preciso cuidar do modo como se chega. Fica a dica para quem sonha alto e se impõe a exercícios que vão além de seus limites. E para aqueles que sofrem com esses pensamentos de serem “impostores”, fica o convite para que procurem o quanto antes um psicólogo que o ajudem a se livrarem desse sofrimento. A descoberta de seu merecimento e a compreensão de todo o esforço dedicado será um caminho seguro para o entendimento e o sentimento de que: “você fez por merecer”!


Por: Karina Simões Moura de Moura

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O que podemos aprender com a morte trágica e prematura de Domingos Montagner?

Disse certa vez o compositor Renato Russo que há muito também nos deixou: “... os bons morrem jovens”.
Por quê? Perguntamo-nos o porquê sempre diante da morte e da finitude da vida.
Perdemos recentemente o ator Domingos Montagner, mas parece mesmo que todos nós perdemos juntos um pouco de nós mesmos, com esse contato de tão longe e tão perto ao mesmo tempo, sobre a morte e o morrer. Esse tema da finitude nos amedronta, nos fascina, nos aproxima do outro, bem como nos distancia literalmente, pois nos incapacita de mantermos o toque, o olhar, a escuta... E é nessa hora que o coração aperta, e a angústia nasce. 
Pensamos que podemos ter o controle de nossa vida. Fazemos planos. Escrevemos metas. Guardamos dinheiro para alguma viagem, por exemplo. E aí, algumas vezes, somos pegos de surpresa pela visita inesperada do “fim” entre nosso começo e meio da vida.
Durante toda a semana, percebi uma comoção diante de tal perda tanto em meus atendimentos clínicos quanto pelas redes sociais. O Domingos representava para muitos brasileiros “o cara do bem”, o homem honesto, o verdadeiro, o palhaço, o ator que começou de baixo, era terno e afetivo, o cara de família. Enfim, ele se tornou o referencial do bem na mídia brasileira. E com isso, todos nós sofremos juntos com a perda do bem contra o mal. Porque parece, muitas vezes, que a morte é o “mal” e, então, se trava uma briga com o bem. Revoltamo-nos quando, a princípio, parece que o mal venceu. Mas nem sempre é assim. Encarar a morte como uma passagem nos acalenta transitoriamente, mas a dor para muitos parece não passar. Entender que a morte não é um castigo. Ela vem, simplesmente vem. Ela chega, simplesmente chega, sem avisar, num mistério divino ou numa expectativa inesperada. Pois, por mais que esperemos a “dona morte” chegar em alguns casos, mesmo assim, ela parece nunca ser esperada, tampouco bem-vinda. 
A correnteza do rio o levou, mas todos os dias lidamos com correntezas na nossa vida. E o grande segredo é mantermos o equilíbrio da canoa da vida nessas correntezas. Essa canoa? Ela é feita de nossas emoções e experiências vividas e acumuladas. 
O tempo de todos nós urge. É hora de pensar, falar e praticar o que realmente importa: o bem! Olhar mais pra dentro de si e aprender também a silenciar quando necessário. Pensar antes de falar em alguns momentos e aquietar a mente e o coração, a alma e o corpo. Não somos nada! Títulos ou bens materiais, arrogância e altivez..., pois, no momento da finitude, tudo perde o sentido... Ou encontra-se o sentido? Esse episódio de Domingos levou o povo a refletir sobre a fragilidade do viver.
Sinta agora, viva emoções agora, fale que ama e equilibre-se nas correntezas da vida! Que tenhamos mais consciência do quão frágeis somos; que julguemos menos as pessoas e possamos compreender mais quem elas são de verdade. Mais perdão, mais amor e mais compreensão!

Disponível também em minha coluna UOL: 
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher.htm
Por: Karina Simões Moura de Moura 

@karinamourademoura

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Inveja: você sente?

Falar em inveja parece assustar as pessoas e também gerar um receio no posicionamento de assumir senti-la ou não. Segundo o dicionário Aurélio, a inveja é um desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia. Ou também um desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem. Inveja vem do latim invidia que tem relação com a ideia de “ver” (em latim: videre). Já o prefixo in faz menção ao ato invejoso daquele indivíduo que lança um olhar de recusa e ódio aos bens e feitos alheios.

O filósofo Kierkegaard afirma que a inveja é uma admiração que se dissimula, e como sentimento dissimulado deve ser bem destrutivo senti-lo. No entanto, a grande questão da humanidade, no que diz respeito à inveja, é que as pessoas não se reconhecem invejosas. Até porque, como o próprio significado e conceito mostram, é triste e condenável senti-lo. Tomás de Aquino dizia que "a inveja é a tristeza pela felicidade dos outros, exultação pela sua adversidade e aflição pela sua prosperidade". A inveja é de fato um dos grandes males da humanidade.

Entender o sentimento da inveja é importantíssimo para o autoconhecimento, tendo em vista que é uma incapacidade de reconhecer uma falha própria, a dificuldade de aceitar o fracasso, bem como de alegrar-se com a alegria do outro. O que se configura, portanto, como um sentimento muito nefasto e sério. Pois, se alguém não se exulta diante do sucesso e conquistas do outro, isso implica questões internas não resolvidas. Segundo o historiador Leandro Karnal, sentimos inveja de quem está próximo de nós, ou seja, o famoso jargão "a grama do vizinho é mais verde que a minha?!".

Napoleão Bonaparte, líder político, afirmava que “a inveja é um atestado de inferioridade”. É possível se aperceber que o sentimento destrutivo é subjacente à inveja, sendo, portanto, a conquista do outro uma tristeza marcante para o invejoso. Isso denota frustração e ausência de crescimento interior a fim de poder visualizar tanto as próprias virtudes como as belezas e o sucesso inerentes à vida do outro ser.

Vemos, então, que a inveja já foi muito citada por ilustres pensadores, além de ser um dos sete pecados capitais. Mas, um dos escritos de Caio Fernando Abreu revela algo que nos acalenta: “Não choro minhas perdas, nem temo a inveja e o olho gordo que me rodeiam. Sou de Deus, quem não é que se cuide!”.  

 

Por: Karina Simões Moura de Moura @karinamourademoura

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