08 Março - O poder do batom



Sempre cabe “algo” a mais dentro da bolsa de uma mulher: carteira, bloquinhos, canetas, notebook, Ipad, maquiagens, remedinhos, cremes, etc. Isto não é diferente com o coração da mulher que, também, tem sua identidade traçada na expressão dos valores mais sublimes como a capacidade de amar e ser terna, na capacidade profissional, no desejo de sempre ficar mais bela, de ser reconhecida, valorizada e ser recompensada em seus investimentos afetivos. Nela sempre há lugar para “algo” a mais, ou alguém, além dela. Estaria o coração da mulher retratado em sua bolsa? Brincadeiras à parte, não há como negar que a mulher traz consigo a imensa virtude de cuidar de tantas coisas ao mesmo tempo e ter seus afetos direcionados para tantos objetos como para a realização pessoal e familiar.

Na bagunça da bolsa ou da sua cabeça há uma organização incrível onde tudo se acha quando se precisa, bastando apenas revirar o que em seu interior guarda e logo se tem à mão do que se necessita. Mas talvez, em tempos atuais, muitas mulheres estejam renunciando ao charme desse adereço ou de sua capacidade multifuncional, própria de sua essência feminina, para tornarem-se iguais na hora dos desafios no mundo de conquistas, ou melhor, tornarem-se menores em seus tamanhos, abdicando de virtudes e capacidades que as fazem um ser diferente.

Não é possível ser igual quando se é diferente e se mostrar sem sentido viver um enfrentamento para se conquistar um lugar que não é seu e nem deve pretendê-lo. Homens e mulheres trazem na alma marcas que tendem ao encontro e, nesse aspecto, se valem de atributos diferentes. O charme feminino está na sua imensa capacidade de amar, que se faz com ternura, gentilezas e afetos. Isso em nada diminui a sua condição de ser e, antes de parecer uma negação ou afirmação de inferioridade, tem a força de pô-la num lugar privilegiado em toda relação, em todos os seus empreendimentos e investimentos afetivos ou intelectuais.

Receio as consequências do discurso beligerante, posto num cenário de “guerra dos sexos”. Essa guerra nega a própria verdade do sexo que, sendo diferente, se ajusta e não pretende o mesmo lugar. Nem mesmo na competitividade do mercado de trabalho, que muitas vezes, interfere com a sua cultura de disputa nos espaços mais reservados como a família, justifica-se tal debate. Nesse contexto, me parece danosa a comparação entre gêneros, porque a correlação com o sexo apenas reforça o sentimento de enfrentamento entre a figura masculina e a feminina. Assim, repito: não se trata de melhor ou pior, menor ou maior, entre homens e mulheres. Eles são diferentes e cada um tem seu espaço, e que não exclui ou diminui o espaço do outro.

É preciso pensar diferente. A mulher não quer o lugar do homem e o homem não deve se sentir invadido em seu espaço. A mulher quer o lugar dela sem abrir mão do seu ser feminino, independentemente de sua orientação afetiva sexual. E assim, não quer que lhe seja negado tal direito, e acima de tudo, não pode negar-se esse direito deixando de lado o seu ser mais belo: o ser atraente, amável, sedutora, competente... Ser mulher.

Na força no batom, presente em quase todas as bolsas femininas, há uma verdade também presente no coração de cada mulher: temos a verdade do amor!!!

Feliz dia internacional da mulher!


Por: Karina Simões

@Psicronicidade

 

Da depressão à terapia cognitiva


Falar em perdas nos remete à dor. Ninguém parece estar preparado para perder ou sofrer dores muitas vezes imensuráveis. As perdas nos levam a um processo de luto interno que podem causar, em casos mais graves, um quadro depressivo.

Depressão é uma doença série e grave. Já nos anos de 1990 era referenciada como a “doença do século”, por ser um mal dos tempos modernos e de nova geração. Hoje então, já percebemos a dimensão e o comprometimento do poder devastador que uma depressão pode causar em alguém. No entanto, é importante distinguirmos a tristeza como sintoma, de um quadro depressivo. Ou seja, a primeira é um sentimento transitório e passageiro, sendo reação de ajustamento de situações, frustrações e perdas. A depressão, mesmo muitas vezes, sendo desencadeada por alguma situação adversa, o quadro de humor rebaixado insiste em permanecer acarretando consequências psicossomáticas sérias.

Cito alguns sintomas psíquicos e fisiológicos: humor rebaixado, sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa; redução na capacidade de experimentar prazer, fadiga, concentração prejudicada, alteração do sono e do apetite, redução do interesse sexual, retraimento social, crises de choros e possíveis comportamentos suicidas.

O psiquiatra e psicoterapeuta Aaron T. Beck desenvolveu um modelo cognitivo da depressão, no qual postula três conceitos específicos: a) a tríade cognitiva, b) os esquemas e, c) os erros cognitivos. O primeiro fator importante da tríade cognitiva gira em torno da visão negativa que o paciente tem de si mesmo. O segundo fator consiste na tendência da pessoa deprimida a interpretar suas experiências atuais de uma forma sempre negativista. E o terceiro consiste em uma visão negativa do futuro. Assim, percebemos que um indivíduo deprimido terá uma visão de si, do outro e do mundo sempre de forma obscura e negativa. Pois, a capacidade da pessoa deprimida de racionalizar sentimentos positivos está embotada, ou seja, como se em seu cérebro só restassem sentimentos direcionados à tristeza, à apatia e à infelicidade.

Aliviar a dor emocional e outros sintomas vinculados à sensação de luto e perda à depressão é uma das metas do tratamento por terapia cognitiva, focalizando, dessa forma, nas interpretações errôneas, atitudes e pensamentos disfuncionais do paciente. Pois, a maioria desses pacientes deprimidos é atraída a fazer apenas generalizações negativas exageradas.

Compreender que o mundo se torna cinza para a pessoa deprimida e fazer um movimento de acolhimento é fundamental para o paciente sentir-se seguro a seguir adiante numa busca por um tratamento adequado.



Por: Karina Simões

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Você sabe o que é TEPT?

 

Em meio a tantas catástrofes e violências constantes na sociedade, lembrei-me do tema que há anos trabalho em consultório e em grupos: estresse pós-traumático.


O trágico e marcante acontecimento, para todos nós, do incêndio de Santa Maria (RS) ficará na lembrança de famílias e vítimas, como também na mente de muitos brasileiros que acompanharam pela mídia e sofreram juntos, o trauma e a dor da perda de muitos. Assim, nos deparamos com crianças, adolescentes, jovens e adultos marcados de tantas formas que necessitam passar muitas vezes por um processo de reestruturação cognitiva e emocional para conseguir se reinserir no contexto social após o enfrentamento de alguns traumas.


O trabalho de escuta e reestruturação junto às famílias das vítimas de traumas é essencial para a superação acontecer com mais precisão. Entender que cada pessoa que passa por um trauma irá se comportar de uma maneira única, e necessita de uma atenção cuidadosa, é algo premente. Pois, as reações expressadas têm relação com sua história de vida, história do trauma, sua capacidade de lidar com sentimentos e emoções e o impacto que a experiência traumática representou em sua vida. Nessa hora do pós- trauma é fundamental a intervenção terapêutica como recurso necessário para que a pessoa possa reorganizar seu padrão de funcionamento mental e dar continuidade ao processo e ao clico de vida saudável.


Mas, muitos não sabem o que vem a ser o Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT). É um transtorno da ansiedade que se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais onde o portador pode ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Ao se recordar do fato, ele revive o episódio, como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou. Essa recordação ou lembrança leva a uma série de alterações neurofisiológicas.


É exatamente esse quadro acima que muitos vivem hoje após a tragédia de Santa Maria (RS). Um quadro a princípio de estresse agudo em reação ao acontecimento, porém, com todos os sinais, sintomas e comprometimento psíquico para desencadear o TEPT. Reconhecer os sintomas e saber lidar com o diagnóstico é o primeiro passo para uma escuta diferenciada e um manejo de tratamento correto para as vítimas da tragédia.


Assim, o tratamento proposto a pessoas que sofram de TEPT precisa atingir as mais escondidas recordações traumáticas, levando-as a uma vivência atual e restabelecendo um equilíbrio psíquico na vítima. O acolhimento é o passo primordial e fundamental, para que a vítima do trauma sinta-se verdadeiramente compreendida e ouvida quantas vezes forem necessárias, repetindo a história e a vivência de dor. Pois, é nos amigos e familiares que a vítima se depara com uma fala fatídica: “Vamos esquecer isso”. Um erro cometido leigamente por muitos. Porque esquecer jamais será possível. Mas aprender a lidar com a dor sim.


Como finaliza uma paciente após alguns passos na psicoterapia: “Realmente, eu não sou mais a mesma pessoa após a vivência deste trauma, mas toda esta experiência de psicoterapia ensinou-me a dar muito mais importância à minha vida do que eu vinha dando antes.”
 


Por: Karina Simões

@Psicronicidade

Para saber mais sobre o tema ler: Transtorno de Estresse Pós-Traumático: Diagnóstico e tratamento. Editora Manole (SP). Capítulo 04 (Autoria: Eduardo Ferreira-Santos e Karina Simões)
 

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