Muitos que passam por aqui sabem que eu também oriento casais...
E essa foi uma semana longa onde reeduquei casais sobre casamentos e a razão de uma nova administração. Ops! Deixa-me explicar:
Costumo fazer uma alusão da instituição casamento com uma empresa. Assim, quando uma empresa chega à falência ela pode ainda ser comprada por outros administradores e se reerguer. Dessa mesma maneira é o casamento. Caiu... levantou-se! Mas com uma nova administração, novos conceitos, novas regras, novas crenças. Caso contrário, chega à falência novamente.
Os que passaram ou passam por mim já sabem o quanto eu defendo o poder da solidão ou seja a importância da individualização e individuação do SER dentro da relação a dois. A convivência num namoro nos permite não perder tais questões, deixando assim, intactas as “zonas de desenvolvimento proximal” que todos nós temos. Entenda-se aqui de “zona de desenvolvimento proximal” como uma linha tênue de evolução intelectual do ser. Com isso, ao chegar no casamento, os casais se deixam perder nesse limiar. O namoro funciona ou funcionou anos, e o casamento não, porquê?
A solidão a dois é tão importante e fundamental para o relacionamento dar certo e evoluir quanto o sentimento entre o casal, o tesão, a paixão (que tem prazo de validade) e os outros componentes psicoafetivos envolvidos.
Num texto de Hilda Lucas, uma colunista e romancista, ela defende também a solidão e nos mostra outros lados fascinantes e nada obscuros da solidão. Espero que estejam abertos a absorver a idéia...
“Que me desculpem os desesperados, mas solidão é fundamental para viver. Sem ela não me ouço, não ouso, não me fortaleço. Sem ela me diluo, me disperso, me espelho nos outros, me esqueço. Não penso solto, não mato dragões, não acalanto a criança apavorada em mim, não aquieto meus pavores, meu medo de ser só. Sem ela sairei por aí, com olhos inquietos, caçando afeto, aceitando migalhas, confundindo estar cercada por pessoas, com ter amigos. Sem ela me manterei aturdida, ocupada, agendada só para driblar o tempo e não ter que me fazer companhia. Sem ela trairei meus desejos, rirei sem achar graça, endossarei idéias tolas só para não ter que me recolher e ouvir meus lamentos, meus sonhos adiados, meus dentes rangendo. Sem ela, e não por causa dela, trocarei beijos tristes e acordarei vazia em leitos áridos. Sem ela sairei de casa todos os dias e me afastarei de mim, me desconhecerei, me perderei.”
Ela completa ainda reafirmando:
“Solidão é o lugar onde encontro a mim mesma, de onde observo um jardim secreto e por onde acesso o templo em mim. Medo? Sim. Até entender que o monstro mora lá fora e o herói mora aqui dentro. Encarar a solidão é coisa do herói em nós, transformá-la em quietude é coisa do sábio que podemos ser. Num mundo superlotado, onde tudo é efêmero, voraz e veloz a solidão pode ser oásis e não deserto. Num mundo tão estressado, imediatista, insatisfeito, a solidão pode ser resgate e não desacerto. Num mundo tão leviano, vulgar, que julga pela aparência e endeusam espertalhões, turbinados, a solidão pode ser proteção e não contágio. Num mundo obcecado por juventude, sucesso, consumo a solidão pode ser liberdade e não fracasso.
Solidão é exercício, visitação. É pausa, contemplação, observação. É inspiração, conhecimento. É pouso e também vôo. É quando a gente inventa um tempo e um lugar para cuidar da alma, da memória, dos sonhos; quando a gente se retira da multidão e se faz companhia. Preciso estar em mim para estar com outros. Ninguém quer ser solitário, solto, desgarrado. Desde que o homem é homem, ou ainda macaco, buscamos não ficar sozinhos. Agrupamo-nos, protegemo- nos, evoluímos porque éramos um bando, uma comunidade. Somos sociáveis, gregários. Queremos amigos, amores. Queremos laços, trocas, contato. Queremos encontros, comunhão, companhia. Queremos abraços, toques, afeto. Mas, ainda assim, ouso dizer: é preciso aprender a estar só para se gostar e ser feliz. O desafio é poder recolher-se para sair expandido.
É fazer luz na alma para conhecer os seus contornos, clarear o caminho e esquecer o medo da própria sombra. Ouse a solidão e fique em ótima companhia.”
Por: Karina Simões
Data: sexta-feira, 4 de junho de 2010