RAIVA, DIA DE FÚRIA OU TRANSTORNO DO CONTROLE DOS IMPULSOS?

O sentimento de raiva e a vontade de extravasar têm se tornado um fenômeno comum na sociedade, onde percebemos cada vez mais, gestos e comportamentos agressivos, movidos por uma ira interna, que muitas vezes se massificam. Todos têm um lado mais primitivo, que pode transformar uma pequena faísca numa chama ou explosão.

Na Neurociência, estudamos o transtorno de controle dos impulsos que é o fracasso em resistir a um impulso ou tentação de executar um ato perigoso para a própria pessoa ou para outros. Na maioria dos transtornos dessa categoria, o indivíduo sente uma crescente tensão ou excitação antes de cometer o ato. Após cometê-lo, pode ou não haver arrependimento, autorecriminação ou sentimento de culpa. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-IV) encontramos os seguintes transtornos do impulso, para o nosso conhecimento:

  1. Transtorno Explosivo Intermitente: episódios distintos de fracasso em resistir a impulsos agressivos, resultando em sérias agressões ou destruição de propriedades.
  2. Cleptomania: um fracasso recorrente em resistir a impulsos de roubar objetos desnecessários para o uso pessoal ou em termos de valor monetário.
  3. Piromania: um padrão de comportamento incendiário por prazer, gratificação ou alívio de tensão.
  4. Jogo Patológico: um comportamento mal-adaptativo, recorrente e persistente, relacionado a jogos de azar e apostas.
  5. Tricotilomania: ato de puxar de forma recorrente os próprios cabelos por prazer, gratificação ou alívio de tensão, acarretando uma perda capilar perceptível.
  6. Transtorno do Controle dos Impulsos Sem Outra Especificação: incluído para a codificação de transtornos que não satisfazem os critérios para qualquer um dos transtornos específicos do controle dos impulsos, descritos antes ou em outras seções do manual.


Vou deter-me ao espectro do transtorno explosivo intermitente, onde nos deparamos com o sentimento primitivo da raiva, presente em todos nós, porém, canalizada e processada de formas distintas. Pois, a fim de garantir a preservação da espécie, a raiva funciona, para nós, como um mecanismo de defesa, onde o cérebro é acionado quando se sente em uma zona de perigo.

A ira parece irracional, e de certo modo, é. No dia a dia, ela surge quando nossos objetivos são frustrados ou quando sentimos uma sensação de injustiça. É bom lembrar que nem sempre a raiva leva à violência. Pois, a raiva moderna, tomou novas formas de expressão. E a própria pessoa, muitas vezes, sofre sozinha, chegando a adoecer devido a uma raiva intrínseca. Outras vezes, essa raiva é extravasada de forma grandiosa, causando um desgaste maior e desproporcional à sociedade.

Segundo a neurocientista Molly Crockett, da Universidade de Zurique, na Suíça, existem evidências de que variações em um gene influenciem no circuito cerebral da raiva e do controle. São genes que desemprenham um papel importante nos nossos níveis de serotonina e dopamina, neurotransmissores fundamentais para sentirmos o bem-estar, e ambos envolvidos na agressividade. Por isso, ficamos irritados quando estamos com fome, por exemplo. Nessa hora há uma oscilação nos níveis de serotonina.

Um ataque de raiva costuma durar não mais de 15 minutos, porém, o cérebro e o corpo passam por transformações que podem deixar sequelas. A raiva saudável é aquela que nos torna capazes de protestar ou de nos autoafirmar. Ou seja, o melhor a fazer é aprender a ser assertivo e regular suas emoções para diminuir a fúria.

Lembre-se sempre e tome como lição: Gentileza gera gentileza. Ou como diz o clássico ditado inglês: “Keep calm and carry on”.

Por: Karina Simões
Twitter: @Psicronicidade
www.karinasimoes.com.br

Depressão: uma realidade escura e abstrata do sofrer

 

Cada vez mais conhecemos pessoas que se encontram acometidas por uma tristeza profunda, uma melancolia e angústia, a princípio, sem explicações aparentes. Na verdade, tem crescido significadamente o número de pessoas que apresentam esses sintomas. A OMS (Organização Mundial da Saúde) prevê que até o ano de 2020 a depressão passe a ser a segunda maior causa de incapacidade e perda de qualidade de vida. A depressão tem afetado milhões de pessoas a cada ano, indiferente da idade, sexo ou condições socioeconômicas.

Afinal, o que vem a ser mesmo a depressão? A depressão é caracterizada por um estado em que o humor fica deprimido e melancólico. O indivíduo sente-se angustiado, ansioso e apresenta um enorme desânimo com uma falta de energia e, sobretudo, uma falta de vitalidade mostrando-se apático e sem motivação para enfrentar a vida.

É difícil medirmos o tamanho sofrimento que esta doença causa. E com isso, pode-se retardar o diagnóstico correto, fazendo com que a doença se agrave.  A depressão é causada por um desequilíbrio nas conexões de algumas substâncias do cérebro.  As causas de depressão são múltiplas, de maneira que somadas podem iniciar a doença. Deve-se a questões constitucionais da pessoa, com fatores genéticos e neuroquímicos somados a fatores ambientais, sociais e psicológicos. Assim, existem fatores externos que favoreçam o surgimento: divórcios, mortes, diagnósticos de doenças, perda de emprego, problemas financeiros graves, abuso ao álcool e outras drogas, mudanças hormonais, histórico familiar favorável, etc.

Conheça alguns sinais e sintomas da depressão, assim você poderá ajudar a alguém próximo:

- Humor depressivo com tristeza durante a maior parte do tempo;

- Irritabilidade e ansiedade;

- Desânimo e perda de interesse por atividades que antes eram agradáveis;

- Mudanças no apetite;

- Insônia ou sono em excesso;

- Cansaço mental e dificuldade de concentração com esquecimentos;

- Tendência ao isolamento social;

- Sentimentos de inferioridades e culpa;

- Redução da libido;

- Ideias de morte e até suicídio;

- Sensação de desespero e insegurança.

A depressão tem tratamento, e em mais de 80% dos casos as pessoas melhoram com o tratamento adequado. Os tratamentos incluem: psicoterapia cognitivo comportamental (TCC) e medicamentos. A prática regular de atividade física, uma alimentação balanceada, uma rotina com uma higienização do sono ajuda e completa o ciclo do tratamento. Ajude a identificar pessoas com depressão e encaminhe-as para os profissionais capacitados e responsáveis pelo tratamento.


Como disse o médico psiquiatra A. Cury: “nunca despreze as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana”. Assim como diabetes, asma, hipertensão dentre outras doenças, a depressão é mais uma doença, que tem tratamento e precisa ser encarada com mais seriedade e menos preconceito.


“Antidepressivos tratam a dor depressão, mas não curam o sentimento de culpa e nem tratam a angústia da solidão”. (A. Cury em: O futuro da humanidade)

 

Por: Karina Simões  @Psicronicidade

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Como dizer uma má notícia?

A importância do estado psicológico e equilíbrio emocional do paciente se tornou, hoje, fundamental para uma boa evolução de seu quadro clínico. Dessa forma, diversas faculdades aqui no Brasil, já começaram a treinar seus alunos e futuros médicos, com cursos e disciplinas que ajudem a como proceder diante de uma notícia de diagnóstico grave, o avanço de uma doença ou a impossibilidade de alcançar a cura.

Existe uma ferramenta que tem ajudado nas faculdades da área de saúde, chamado de protocolo SPIKES. Um protocolo simples e que tem tido sucesso em pesquisas acadêmicas, minimizando e suavizando o quadro clínico do paciente ao receber notícias ruins. O protocolo descreve seis passos de maneira didática para comunicar más notícias:


1º passo (Setting up): Preparando-se para o encontro;
2º passo (Perception): Percebendo o paciente;
3º passo (Invitation): Convidando para o diálogo;
4º passo (Knowledge): Transmitindo a informação;
5º passo (Emotions): Expressando emoções;
6º passo (Strategy and Summary): Resumindo e organizando estratégias.

Diante do momento que encontro-me vivenciando, refiro-me aqui ao estado de saúde do meu pai, comecei a estudar a esse respeito e procurar compreender como proceder nessas horas difíceis visto que poucas pessoas assumem a árdua tarefa de dar uma má notícia ao ente querido. Assim, eu compilei abaixo algumas dicas para esse momento delicado.

Como dar mensagens ruins:
1. Estar tranquilo e ter tempo disponível;
2. Oferecer a possibilidade de novos encontros para tirar as dúvidas;
3. Transmitir afeto, cuidado e companheirismo;
4. Respeitar preferências pessoais e culturais do paciente;
5. Evitar falso otimismo e excesso de desencorajamento;
6. Usar linguagem clara e simples, evitando termos técnicos;
7. Ouvir bem os pacientes e as preocupações dos familiares;
8. Dar informação de forma gradual;
9. Entender o que o paciente deseja e suporta saber naquele momento;
10. Compreender o silêncio e o calar do paciente. E se necessário, repetir quantas vezes forem necessárias as informações.

Respeitar o silêncio, num primeiro momento, é essencial, ao se adentrar o universo do paciente. Pois, o que é absorvido nesse momento, pode ser turbulento e confuso para ele. Por isso, se faz necessário repetir as informações várias vezes. É bom lembrar que, também, não é nada fácil para os médicos e a equipe de saúde, lidar com manejo de notícias ruins, apesar de vivenciarem diariamente situações afins. Muitas vezes, escuto dos próprios médicos que eles se sentem impotentes diante de certas situações.  Pois, quem tem esperança vive melhor, segundo pesquisas e relatos atuais. A fé é outro elemento essencial e fundamental para o ser humano sobreviver em equilíbrio.

A psiquiatra americana Elizabeth Kubler-Ross é uma estudiosa no assunto e segundo ela existem estágios pelos quais passamos após notícias graves, que pode nos ajudar a entender a inquietação que passamos:


1º estágio: Negação
2º estágio: Raiva
3º estágio: Barganha
4º estágio: Depressão
5º estágio: Aceitação

Mas, nem sempre é assim nessa sequência que acontece. Muitas vezes, o paciente poderá ficar refém do 1º estágio (negação) até o fim. Ou até mesmo preso à sensação e estágio de raiva ou depressão. Já dizia Oliver Holmes, no séc. XIX: “Cuidado para não retirar a esperança de outro ser humano”. E eu completo sempre: Pode ser a única coisa que resta a ele.

Por: Karina Simões @Psicronicidade

Papo de quinta

Papo de quinta: Entenda o que é transtorno bipolar


Quinta, 28 de Junho de 2012 - 15h01

 

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