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A difícil arte de ser mãe

Deparo-me com a difícil arte de ser mãe, seguindo os passos do renomado psicanalista Winnicott que fala da teoria da “mãe suficientemente boa”, ao dizer que a mãe tem a missão de tornar o seu filho autônomo dando-lhe segurança e afeto. 
Parece evidente que todas as mães trazem o desejo de verem os seus filhos caminharem com suas próprias pernas, mas elas guardam em seus corações e práticas a vontade de tê-los sempre sob o seu cuidado e até domínio. Em outras palavras, as mães querem ver os filhos crescerem, porém, ao mesmo tempo, seu instinto de proteção e zelo se apresenta como barreira que impede seus filhos por si só de exercerem suas atividades.
Entre a responsabilidade, o medo e a necessidade de que os filhos se tornem autônomos, surge um espaço para um conflito no peito de cada mãe. Tudo acontece de forma gradativa, embora as mães sejam surpreendidas com atitudes de seus filhos ao darem evidentes sinais de que deixaram de ser a criança de antes. “Filho, eu não estou lhe conhecendo mais”, elas dizem.
O filho cresceu! Mas o fato é que o filho parece nunca crescer para uma mãe. E isso lhe traz um sofrimento que lhe consome e muita vez compromete até mesmo o seu sentido existencial. Muitas mães têm a dificuldade de olhar com lentes de liberdade para o filho, porque muitas vezes o termômetro materno parece ser sempre o do afeto, da proteção e do cuidar.
A literatura fala da síndrome do ninho vazio quando as mães se veem destituídas e não mais necessárias a desempenhar a antiga função materna, sendo, portanto, convidadas a exercê-la em outros termos. Isso se dá, por exemplo, no momento em que os filhos saem de casa e alçam voo para o crescimento e amadurecimento.
Já se disse que ser mãe é padecer no paraíso, e que sua sina é amar, cuidar e depois perder. Não há lógica que justifique e que torne compreensível essa dinâmica, onde se busca conscientemente viver um sentimento inigualável que estará sempre fadado a dores, mas que tem a sua recompensa em risos e renúncias que se fazem maiores do que tudo.
Ser mãe é uma missão árdua e prazerosa ao mesmo tempo. É sublime e insuportável (algumas vezes) numa questão de segundos. Por que não dizermos que ser mãe, muitas vezes, é fazer com que a mulher se sinta bipolar nos seus comportamentos afetivos? Mas, por ser mulher, o ser mãe tem dessas oscilações, pois será sempre um mistério o desvendar do coração feminino.
O maior desafio de ser mãe é favorecer o crescimento de seus filhos considerando o tempo deles e não o seu relógio afetivo; afinal, junto ao seu coração, nenhum filho deixará de ser criança, embora os seus olhos revelem que o menino de outrora se tornou homem, e que a menina se tornou mulher.

Por: Karina Simões @karisimoes

texto disponível em minha coluna UOL/mulher

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A arte de perder

Ao assistir ao filme Para sempre Alice, um dos vencedores do Oscar 2015, deparei-me com um tema de extrema relevância: as perdas!

O filme mexe com uma das mais importantes áreas femininas: a vaidade. A partir daí, percebemos a quantidade de perdas inerentes ao viver. O filme retratou uma história de uma renomada professora de linguística que descobre mais à frente ser portadora do mal de Alzheimer.
Desde a descoberta, a vida de Alice vem sendo contabilizada por inúmeras e sucessivas perdas: o domínio cognitivo, a capacidade intelectual, o poder familiar, a culpa genética pelos filhos, a perda de sua autonomia laboral, a vaidade e a autoestima, entre outras, são as perdas nesse processo.
E é assim a vida de cada mulher quando paramos para refletir, que, no nosso dia a dia, passamos por perdas diárias, por lutos não reconhecidos, muitas vezes, porque na verdade já nos diziam e nos ensinaram os psicanalistas, que ao nascermos já começamos a perder. Perdemos ao sair do ventre materno para encarar e enfrentar as adversidades mundanas. Claro que não podemos focar numa visão apenas pessimista da vida, devemos ter em mente que também temos uma sucessão de ganhos e aprendizados diários, mas também é importante a compreensão de que as perdas, desde que nascemos, serão uma constante no processo de viver. O filme evidencia que as perdas vividas dão oportunidades para que o amor se revele como fruto do que foi semeado, pela própria personagem, ao longo da sua história. A dedicação do marido no estágio avançado da doença e o cuidado da filha e da família bem revelam que maior do que a perda é o ensejo do amor.
A poetisa citada pela personagem no filme, Elizabeth Bishop, fala poeticamente sobre o perder. Ela nos diz:
"A arte de perder não é nenhum mistério; Tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, a chave perdida, a hora gasta bestamente..."
Enfim, vivemos diariamente um aprendizado sobre a arte de perder. E o perder a cada dia é também um grande aprendizado para quem perde, e para quem observa a perda. Pois, perder também é ganhar... Quando existe o amor!!!

Por: Karina Simões

Disponível também em minha coluna UOL/Mulher em: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher.htm

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Assédio Conjugal: uma outra visão

Existem várias formas de se expressar num relacionamento. Dizer algo para revelar um desejo não se limita à palavra pronunciada. Dizemos “sim” e dizemos “não”, dizemos “quero” e “não quero” de várias maneiras e, principalmente, com atitudes. Expressar-se nem sempre é fácil e, muitas vezes, manifestamos nossa vontade através de comportamentos e atitudes que estão falando para o outro o que é difícil de ser dito de forma oralizada.

Passamos a observar na prática clínica que muitos casais entram em sérios conflitos porque não sabem ou fazem a opção de não conversarem e, portanto, não tornam claros os seus desejos.

A declaração de amor que é intensa entre os novos casais, que movidos pelo fogo da paixão não economizam palavras para revelarem seus sentimentos, aos poucos vai  mudando a forma de ser apresentada. Pois, com o tempo, a dinâmica das relações muda, assim como os desejam mudam. Os gestos tornam-se mensageiros do afeto e o amor se revela em atitudes. A decodificação do sentimento é própria do coração, contudo, nem sempre o coração é um bom tradutor das palavras. Por vezes, se pensa estar amando e o outro não consegue sentir-se amado. Essa é a difícil arte de amar e de se sentir amado. Ruídos que interferem decisivamente no destino da relação quando não são cuidados a tempo.

Mas, em nossa prática de escuta, percebemos que muitos casais praticam o que estamos chamando de assédio conjugal, que se dá quando um dos cônjuges comunica-se com o outro por meio do desprezo, da falta de atenção, da falta de interesse, da desconsideração à vontade do outro e até a imposição de regras e cobranças que vão além do suportável, ou seja, além do limite do outro. Essa prática torna insustentável a convivência de modo que o cônjuge assediado, sufocado pela situação, toma a atitude de assumir a falência da relação.  A respeito disso uma pergunta se sobressai: seria compreensível que alguém insatisfeito com o casamento, ao invés de ter a coragem de decidir se separar, fizesse com que o outro viesse a pedir e, assim, responsabilizasse-o pelo ato da separação? Por que não pede logo a separação ao invés de tornar insuportável a relação até chegar a ponto de o outro dizer: “eu não aguento mais!”?

Vamos explicar esse fenômeno. Todas as vezes que escutamos um casal em crise, ouvimos sempre a preocupação de um transferir para o outro a culpa que gerou a dificuldade entre ambos. Um diz: “Nós estamos em crise porque ele (ou ela) fez isso”. O outro já diz: “Mas aconteceu isso porque você fez aquilo antes”. Isso se torna um círculo vicioso e será sempre impossível detectar a origem da crise.  Geralmente, torna-se um jogo de "pingue-pongue" entre o casal, onde um joga a "bola" da culpa para o outro. Para resumir, ninguém chega a qualquer lugar de concordância. O fato é que ninguém quer assumir a responsabilidade pelo resultado da separação. Tudo isso parece compreensível porque a sociedade ainda indaga os separados sobre o causador do evento: “Por que você se separou?” e isso soa como: “De quem foi a culpa?”.

Embora vivamos tempos diferentes dos de outrora, a carga de cobrança familiar e social e até de preconceito com quem é o causador da separação ainda é motivo de queixas e sofrimentos revelados constantemente no espaço terapêutico. Assumir perante um filho, por sua decisão, que está se separando do  pai ou mãe dele, ou dizer para os amigos comuns, pais, familiares e conhecidos sobre a dissolução do vínculo conjugal não é tarefa das mais fáceis. Considere-se, igualmente, que a autopunição por responsabilizar-se pelo “fracasso” conjugal é uma atitude das mais difíceis. O medo da consequência e do julgamento das pessoas, bem como o receio do desconhecido advindo pela separação, pode interferir num estado de preservação formal da relação até que se crie para o outro um universo avesso e insuportável de modo que o outro tome a decisão desejada por uma das partes anteriormente, mas preservada sob sigilo. 

Muitas pessoas se retraem no desejo que trazem no seu coração de se separarem por medo do que possa vir como julgamentos ou incertezas sobre o futuro, ou seja, de que o fim do relacionamento amoroso possa ser pior do que o sofrimento vivido na relação. Contudo,  por não estarem satisfeitas com a relação, tornam insuportável a convivência e, inconsciente ou conscientemente, levam o outro a “pedir para sair”.

O trabalho terapêutico bem fundamentado é aquele que leva cada pessoa a ter a autonomia de conhecer a verdade sobre si e sobre o seu relacionamento para que essa mesma pessoa possa ter compreensão do que pode ser feito na tentativa de resgatar a sua relação ou, de uma forma menos traumática, ajudar no processo de separação, evitando as consequências danosas do que aqui estamos chamando de assédio conjugal.

 

Por: Karina Simões @Karisimoes e Fabiano Moura de Moura @Fabianomdemoura

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“ASSÉDIO CONJUGAL”: uma realidade inclemente

Meu consultório é um laboratório maravilhoso de ideias. Recentemente, comecei a observar uma demanda frequente não só em minha prática clínica, mas também na mídia, de uma forma geral, de queixas de paciente acerca de uma prática destrutiva em sua relação conjugal.

Trata-se de caso de parceiro que sufoca o outro fazendo certa "pressão" psicológica por inúmeros motivos, e esse cônjuge não se dá conta que esse caminho conduz à construção de uma relação impiedosa.

A intenção parece ser o controle sobre o outro, numa tentativa de mantê-lo perto o(a) parceiro(a).

Consequências do controle sobre o outro no relacionamento

Ao contrário, essa atitude acarreta, cada vez mais, um distanciamento entre o casal levando a vários fatores que geram desgaste, como:

- Quebra da cumplicidade;

- Desconfiança aguçada por uma das partes;

- Ruptura do diálogo franco;

- Instalação de um quadro onde a transparência de atos não mais está presente;

- Sigilo de informações cotidianas;

- Não compartilhamento do dia a dia;

Enfim, o esfacelamento do relacionamento. Esse panorama é originado tendo por base a insegurança do cônjuge.

É notório ressaltar que uma relação conjugal sustentar-se-á, com facilidade, fundamentada no diálogo aberto, sincero e, consequentemente, na presença de um canal de comunicação livre de críticas destrutivas, de notas de repúdio e de vigilância em qualquer de suas formas. É importante diferenciar o compartilhamento de desejos e de vida com a necessidade de controlar o outro.

Pacientes me revelam que o cônjuge exerce continuamente certo domínio sobre eles almejando o controle com perguntas típicas como:

- Onde você foi?

- A que horas volta?

- Com quem estava?

- Telefone-me ao chegar ao trabalho ou envie-me uma foto pelo WhatsApp.

- Por que não postou no facebook? etc.

São práticas visíveis que denotam a autoridade de um sobre o outro.

Sintomas do controle exacerbado sobre o outro

Esses mecanismos de controle exacerbados acarretam, ao longo do tempo, sintomas psicológicos e físicos, tais como:

- Medo de estar fazendo algo errado;

- Ansiedade elevada;

- Taquicardia;

- Alterações no sono e no apetite;

- Sensação de culpa constante;

- Ficar hipervigilante, entre outros.

Costumo explanar que uma relação saudável fundamenta-se não sob esse prisma, mas sim pela cumplicidade, pela troca espontânea, pela partilha despojada, pelo desejo de revelar ao outro as atividades rotineiras ou não do seu dia.

Ressalto que nenhuma relação se sustenta sob o manto da opressão e da vigilância, pois é na liberdade de poder ser quem somos, e de permitir o outro ser e vir a crescer, na sua plenitude, que o amor - na sua essência maior - se revela: livre, espontâneo, puro e, portanto, verdadeiro.

Amor e liberdade não são sinônimos no dicionário, mas estão intimamente ligados na prática da vida.

O amor só floresce num ambiente livre de opressão!

 

Texto disponível em minha coluna UOL/Mulher no site http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher.htm

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Prós e contras dos whatsapp no relacionamento amoroso

Tenho observado, em minha experiência clínica, que cada vez mais casais têm se comunicado através de um aplicativo de celular (Whatsapp) que os fazem travar um diálogo onde eles não mais têm conseguido realizá-lo "cara a cara".


Reflito algumas vantagens e desvantagens dessa modalidade e dinâmica afetiva de dialogar:

Vantagens:

1ª) Ambos têm a oportunidade de falar. Em crises, muitos casais não sabem parar para ouvir um ao outro.

2ª) Impede e evita o grito, que desestabiliza emocionalmente o outro.

3ª) Impossibilita uma reação de violência física.

4ª) Permite que se pense mais antes de enviar a mensagem desejada, tendo em vista que em uma fala o "filtro" usado é bem menor.

5ª) Algumas pessoas se expressam melhor na forma escrita do que na fala. Assim, se atinge melhor o objetivo do que se intenciona ser transmitido.

6ª) Elabora-se melhor o que se pretende dizer, sem impulsividade da comunicação verbal.

Desvantagens:

1ª) Na escrita não se percebe a expressão afetiva, ou seja, pode haver equívoco na interpretação e no sentido do que se deseja realmente dizer.

2ª) Embora possa se fazer uso de emoticons, esse recurso não exprime com tanta precisão emoções e sentimentos.

3ª) Não possui o registro de um tom de voz mais ameno possível no diálogo presencial, que pode dar mais leveza ao que se transmite.

4ª) Lembre-se, um olhar vale mais que mil palavras.

5ª) Relações amorosas não são contratos formais dispostos em regras de cobranças e permissividades. A troca do calor humano é que tem a força de ajustar o comportamento.

6ª) O contato virtual deixa de ser beneficiado com os estímulos de uma presença física, que podem facilitar, tais como: um toque, um abraço, um beijo ou mesmo um pedido de desculpas que, mais do que um registro na internet, se torna uma verdade confirmada pelo encontro de dois corações.

É importante frisar que cada casal tem sua dinâmica e não há regras preestabelecidas. A timidez, o medo ou o receio da reação do outro, a dificuldade de falar olhando nos olhos, a distância física e outros aspectos podem levar os casais a terem, atualmente, suas "DRs" na modalidade virtual. Mas, se houver respeito entre o casal e essa dificuldade de falar presencialmente não estiver comprometida no relacionamento, tendo ambos a garantia do direito de falar e de ouvir, as conversas virtuais servirão de alicerce, cada vez mais, para a base desse encontro a dois. Lembrando que as conversas, sejam virtuais ou não, não devem ter uma conotação de cobrança.

Afinal, convivência a dois no amor, é ter a liberdade de poder se expressar podendo falar na presença do amado tudo o que o coração vive. Tudo com respeito a si e ao outro sempre!

Disponível em minha coluna UOL/Mulher: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher_whatsapp.htm

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