Homens e mulheres tendem a reagir de modo diferente ao assédio moral


Uma crescente queixa de mulheres na minha prática clínica me fez parar e pensar em escrever sobre assédio moral.

A humilhação, seja no ambiente de trabalho ou em qualquer ambiente, pode provocar traumas e problemas de saúde que explico mais abaixo no texto. Essa humilhação frequente pode-se chamar de assédio moral.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê um aumento das doenças ligadas às formas de gestão e organização do trabalho, que nas próximas décadas irão dar corpo a novas doenças profissionais, ou seja, doenças psicológicas.


Segundo Hirigoyen o assédio moral “é como um assassinato psíquico, um processo contínuo de agressões que destrói lentamente a dignidade do sujeito”. Assim, entendemos como uma forma de coação social, que pode vir a se instalar em qualquer tipo de hierarquia e é também conhecida como “terror psicológico”.


Cinco critérios que caracterizam o assédio moral:


1. Dano à dignidade e à produtividade do trabalhador;
2. Padrão repetitivo dos comportamentos degradantes;
3. O agressor apresenta intencionalidade nos seus atos;
4. A conduta é abusiva e se manifesta através de comportamentos intimidativos;
5. Os atos são premeditados por parte do agressor.


Na prática clínica percebemos claramente os prejuízos físicos e psicológicos que o assédio moral pode causar tais como:


Distúrbios cardíacos e endócrinos, alteração no sono, sudorese, problemas gástricos, dor muscular, diabetes, perda de memória, depressão, ansiedade elevada, estresse, dependência química, tentativas de suicídio, alcoolismo, síndrome de burnout, paranoia, entre outros.


Uma pesquisa conduzida pela médica do trabalho Margarida Barreto (PUC – SP/2005) afirma que: "O impacto sobre as relações sociais e afetivas das vítimas de assédio moral – 82,5% delas apresentam problemas de memória, 67% têm baixa autoestima e 60% desenvolvem depressão. Ela entrevistou 42 mil trabalhadores do setor público, de empresas privadas e de organizações não governamentais”.


Mulheres e homens tendem a reagir ao assédio moral de forma diferente


Mulheres:


- Expressam sua indignação com choro, tristeza, ressentimentos e mágoas;
- Sentimento de inutilidade, fracasso e baixa autoestima, tremores e palpitações são constantes;
- Insônia, depressão e diminuição da libido também são manifestações características desse trauma.


Homens:


- Sentem-se revoltados, indignados, desonrados, com raiva, traídos e têm vontade de vingar-se;
- Ideias de suicídio e tendências ao alcoolismo;
- Sentem-se envergonhados diante da mulher e dos filhos, sobressaindo o sentimento de inutilidade, fracasso e baixa autoestima.


O importante é ficarmos alertas sobre os graves prejuízos que o assédio moral pode causar. Como nos ensina a psiquiatra e psicanalista francesa Marie France Hirigoyen: nessas agressões, morre-se lentamente deixando um pedaço de si mesmo.



Por: Karina Simões
@Psicronicidade @Karisimoes
Disponível também em: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher.htm
 

Instabilidade do humor

 

A instabilidade emocional vivenciada hoje nos relacionamentos é dolorosa e angustiante para muitas pessoas. Cada vez mais, as pessoas procuram os consultórios de psicologia, psicanalistas e psiquiatras por sofrerem com instabilidade do humor - própria e/ou oriunda da sua relação com o parceiro (a).


Alterações e instabilidade do humor, até certo ponto, nos parecem normais ou aceitáveis no nosso cotidiano tão cheio de turbulências. No entanto, o que poucos sabem é que isso pode ser o início, ou já um processo instalado, de um transtorno do humor grave, porém tratável. Percebe-se o quanto todo esse tormento sentimental interfere nos relacionamentos, sejam eles conjugais ou sociais. Pois, tal instabilidade de humor confunde significativamente o relacionamento interpessoal, fazendo com que o indivíduo se isole, tenha um baixo rendimento funcional e apresente crises de ansiedade e episódios depressivos. A parte desse histórico sintomático é que há tratamento adequado para tal transtorno.


O primeiro passo seria o encaminhamento a um profissional capacitado a fazer e tratar tal diagnóstico. Segundo passo seria a aceitação do transtorno juntamente com uma reeducação psicossocial. A integração da família no tratamento, muitas vezes, acelera o processo psicoterápico, fazendo assim, com que todos saibam como lidar com tal situação. Dentre alguns transtornos conhecidos, cito o Transtorno Bipolar (TB). Uma instabilidade do humor frequente, que acomete muitas pessoas e desagrega muitos casais e famílias, por falta de tratamento adequado. O TB é caracterizado por episódios mistos de euforia (mania ou hipomania), com episódios depressivos. Há um ciclo do humor, onde o indivíduo fica “preso” em “crises” que chegam a paralisar o pensamento, ou seja, ocorre um curto-circuito cerebral deixando-o com um embaçamento cognitivo. Registro aqui um apelo, com uma visão clínica, que as pessoas deixem o preconceito de lado, e procurem ajuda diante desse ciclo bipolar que angustia não só quem o tem, mas todos os "entes" ao seu redor.


Há um sofrimento intenso da família com uma sensação de impotência diante dos nossos olhos. Há uma vida esperando por cada um de vocês que passa por esses ciclos de humor. E, ela pode ser sim uma vida produtiva e gratificante.  O ato de enfrentar e aceitar esse novo desafio é, sem dúvida, o caminho.



Por: Karina Simões

@Psicroniciadade  @Karisimoes

Recasamento: dicas para padrastos, madrastas e enteados equilibrar a relação

 

 

A humanidade insiste em contar estórias infantis. A Branca de Neve e a Cinderela ao final encontram seu único príncipe encantado. A Bela Adormecida é acordada e salva por seu príncipe e assim cada uma segue em seu final feliz..

Esses contos constroem crenças, como por exemplo, a do amor idealizado que coloca a mulher numa atitude passiva à espera de um príncipe encantado, que a salvará de todos os perengues da vida.

Por outro lado, onde estão os livros ilustrados com novas versões da vida atual?

Livros que nos mostrem madrastas boas e competentes e padrastos empenhados numa nova relação com seus enteados?

Afinal, é preciso dar crédito às pessoas que reconstroem suas vidas e ao recasamento: trata-se da família mosaico.  Nessa nova realidade, a mulher precisa estar preparada para encarar: os meus, os seus e os nossos filhos.

10 dicas para equilibrar a relação na família mosaico:

1ª) Tenha interesse e carinho sincero pelo(a) enteado (a);

2ª) Através do diálogo, defina com clareza o papel de cada membro dessa nova família;

3ª) Preserve o papel dos pais dos enteados;

4ª) O lugar da mãe (ou do pai) é fundamental, não tente ocupar jamais;

5ª) Não faça distinção entre os filhos: os meus, os seus e os nossos;

6ª) Agregue todos os filhos, é sempre a melhor opção inicial; caso não dê certo, será necessário um remanejamento para ver quem mora com quem;

7ª) Controle o ciúme que porventura venha aparecer;

8ª) Respeite o tempo e o limite da criança e/ou adolescente na aproximação;

9º) A madrasta (ou padrasto) não deve representar uma ameaça e sim uma sensação agregadora;

10ª) Cuidado para não transferir ressentimentos e culpas da relação passada para esse seu novo relacionamento.

O papel da mulher nesse recasamento ou família mosaico não é apenas de madrasta, mas sim, de parceira na educação das crianças e adolescentes: meus, seus e nossos.

Assim, a princesa e o príncipe das estórias infantis e contos de fadas, encontram outros amores e reconstroem o conceito de “felizes para sempre”.

Eles são movidos pela vontade de criar uma terceira família com a seguinte ideia: recasamento é ser um, apesar de tantos envolvidos. Afinal, não basta estarem unidos, mas sim vinculados pela construção do afeto.

 

Por: Karina Simões

@Psicronicidade @Karisimoes

Disponível em: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/mulher_familia_mosaico.htm
 
 

Da depressão à terapia cognitiva


Falar em perdas nos remete à dor. Ninguém parece estar preparado para perder ou sofrer dores muitas vezes imensuráveis. As perdas nos levam a um processo de luto interno que podem causar, em casos mais graves, um quadro depressivo.

Depressão é uma doença série e grave. Já nos anos de 1990 era referenciada como a “doença do século”, por ser um mal dos tempos modernos e de nova geração. Hoje então, já percebemos a dimensão e o comprometimento do poder devastador que uma depressão pode causar em alguém. No entanto, é importante distinguirmos a tristeza como sintoma, de um quadro depressivo. Ou seja, a primeira é um sentimento transitório e passageiro, sendo reação de ajustamento de situações, frustrações e perdas. A depressão, mesmo muitas vezes, sendo desencadeada por alguma situação adversa, o quadro de humor rebaixado insiste em permanecer acarretando consequências psicossomáticas sérias.

Cito alguns sintomas psíquicos e fisiológicos: humor rebaixado, sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa; redução na capacidade de experimentar prazer, fadiga, concentração prejudicada, alteração do sono e do apetite, redução do interesse sexual, retraimento social, crises de choros e possíveis comportamentos suicidas.

O psiquiatra e psicoterapeuta Aaron T. Beck desenvolveu um modelo cognitivo da depressão, no qual postula três conceitos específicos: a) a tríade cognitiva, b) os esquemas e, c) os erros cognitivos. O primeiro fator importante da tríade cognitiva gira em torno da visão negativa que o paciente tem de si mesmo. O segundo fator consiste na tendência da pessoa deprimida a interpretar suas experiências atuais de uma forma sempre negativista. E o terceiro consiste em uma visão negativa do futuro. Assim, percebemos que um indivíduo deprimido terá uma visão de si, do outro e do mundo sempre de forma obscura e negativa. Pois, a capacidade da pessoa deprimida de racionalizar sentimentos positivos está embotada, ou seja, como se em seu cérebro só restassem sentimentos direcionados à tristeza, à apatia e à infelicidade.

Aliviar a dor emocional e outros sintomas vinculados à sensação de luto e perda à depressão é uma das metas do tratamento por terapia cognitiva, focalizando, dessa forma, nas interpretações errôneas, atitudes e pensamentos disfuncionais do paciente. Pois, a maioria desses pacientes deprimidos é atraída a fazer apenas generalizações negativas exageradas.

Compreender que o mundo se torna cinza para a pessoa deprimida e fazer um movimento de acolhimento é fundamental para o paciente sentir-se seguro a seguir adiante numa busca por um tratamento adequado.



Por: Karina Simões

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Você sabe o que é TEPT?

 

Em meio a tantas catástrofes e violências constantes na sociedade, lembrei-me do tema que há anos trabalho em consultório e em grupos: estresse pós-traumático.


O trágico e marcante acontecimento, para todos nós, do incêndio de Santa Maria (RS) ficará na lembrança de famílias e vítimas, como também na mente de muitos brasileiros que acompanharam pela mídia e sofreram juntos, o trauma e a dor da perda de muitos. Assim, nos deparamos com crianças, adolescentes, jovens e adultos marcados de tantas formas que necessitam passar muitas vezes por um processo de reestruturação cognitiva e emocional para conseguir se reinserir no contexto social após o enfrentamento de alguns traumas.


O trabalho de escuta e reestruturação junto às famílias das vítimas de traumas é essencial para a superação acontecer com mais precisão. Entender que cada pessoa que passa por um trauma irá se comportar de uma maneira única, e necessita de uma atenção cuidadosa, é algo premente. Pois, as reações expressadas têm relação com sua história de vida, história do trauma, sua capacidade de lidar com sentimentos e emoções e o impacto que a experiência traumática representou em sua vida. Nessa hora do pós- trauma é fundamental a intervenção terapêutica como recurso necessário para que a pessoa possa reorganizar seu padrão de funcionamento mental e dar continuidade ao processo e ao clico de vida saudável.


Mas, muitos não sabem o que vem a ser o Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT). É um transtorno da ansiedade que se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais onde o portador pode ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Ao se recordar do fato, ele revive o episódio, como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou. Essa recordação ou lembrança leva a uma série de alterações neurofisiológicas.


É exatamente esse quadro acima que muitos vivem hoje após a tragédia de Santa Maria (RS). Um quadro a princípio de estresse agudo em reação ao acontecimento, porém, com todos os sinais, sintomas e comprometimento psíquico para desencadear o TEPT. Reconhecer os sintomas e saber lidar com o diagnóstico é o primeiro passo para uma escuta diferenciada e um manejo de tratamento correto para as vítimas da tragédia.


Assim, o tratamento proposto a pessoas que sofram de TEPT precisa atingir as mais escondidas recordações traumáticas, levando-as a uma vivência atual e restabelecendo um equilíbrio psíquico na vítima. O acolhimento é o passo primordial e fundamental, para que a vítima do trauma sinta-se verdadeiramente compreendida e ouvida quantas vezes forem necessárias, repetindo a história e a vivência de dor. Pois, é nos amigos e familiares que a vítima se depara com uma fala fatídica: “Vamos esquecer isso”. Um erro cometido leigamente por muitos. Porque esquecer jamais será possível. Mas aprender a lidar com a dor sim.


Como finaliza uma paciente após alguns passos na psicoterapia: “Realmente, eu não sou mais a mesma pessoa após a vivência deste trauma, mas toda esta experiência de psicoterapia ensinou-me a dar muito mais importância à minha vida do que eu vinha dando antes.”
 


Por: Karina Simões

@Psicronicidade

Para saber mais sobre o tema ler: Transtorno de Estresse Pós-Traumático: Diagnóstico e tratamento. Editora Manole (SP). Capítulo 04 (Autoria: Eduardo Ferreira-Santos e Karina Simões)
 

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